Exposição - O filho da soja
Sobre a obra - 30 de junho de 1989 por volta das 8 horas da manhã em Xanxerê-SC, nascia ‘‘o filho da soja’’.
"Cresceu achando normal não ter o pai por perto, tinha duas mães, o que mais poderia querer? Ainda criança descobriu que o pai, agricultor, morava na mesma cidade, porém o pai nunca ia visitá-lo. Para ele, o filho era mais um gasto, precisamente o gasto de 93 sacas de soja por ano, valor que o juiz determinou.
Não precisava estar presente, bastava pagar a pensão alimentícia em dia, não precisa amar, bastava cumprir a sua função perante a lei. Assim foi por 10 anos, quando o pai sabe-se lá por que decidiu que agora estava pronto para ser pai, assim o foi, por alguns meses.
Era um pai de fim de semana, aquele que pega a criança e mostra para os amigos, tira foto, leva em algum passeio, enfim que só fica com a parte boa. Porém, não demorou muito o pai percebeu que algo não estava certo. O filho não era como os demais, não gostava de futebol, nem de brincar com os meninos, seus interesses eram outros. Um dia o pai cansou, e em uma dessas visitas de final de semana disse: Filho meu não vai ser maricas! Não tenho mais filho!
Eu ouvi a porta bater atrás de mim. Esta porta nunca mais se abriu. Passados os anos olhando para toda a situação, comecei a me entender como uma peste na vida daquele homem, tal qual um inço na lavoura de soja. Esta exposição, é uma revanche poética, uma forma de ressignificar sua ausência. O manifesto de uma criança maricas, que após um período de dormência em meio as monoculturas de ideias das cidades interioranas, se tornou uma "bixa do mato", e pela arte pode se metamorfosear, ser com as pestes da lavoura de seu pai, criando um corpo de combate, aqui chamado corpo-inço. Se antes eu era filho da soja, hoje sou filho das ervas daninhas".
O artista - Audrian Cassanelli (Audrian Vinicius Cassanelli Griss, 1989) natural de Xanxerê-SC é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFSM na linha de pesquisa de Arte e Tecnologia sob Orientação da Prof.a Dr.a Darci Raquel Fonseca. É bolsista CAPES e atualmente integra o Grupo de Pesquisa em Fotografia LabFoto). Possui graduação em Artes Visuais - Licenciatura Plena pela Unochapecó. Além de membro fundador do Coletivo Inço, tendo participado de inúmeras exposições pelo país, destaque para participação no Edital Nacional - ArteSesc Confluências (2015), Bienal Internacional de Curitiba Polo SC (2017 e 2019) e IV Bienal do Sertão de Artes Visuais (2019). Sua pesquisa busca, através do autorretrato fotográfico, verificar as possíveis relações dos inços com o corpo do artista. Entre suas resistências e a hibridação artística. A partir da observação de inços existentes nos entornos das monoculturas, como estes modelos de resistência, como criar um corpo em metamorfose que será aqui nomeado corpo-inço.
Abertura da exposição 25 de Outubro às 19h na galeria de artes do Sesc Concórdia.
Exposição 18 anos
Exposição artística pelo artista Audrian Cassanelli.