Vontade de escrever, sensibilidade e criatividade de sobra: assim nasceu a Oficina de Escrita para idosos, uma realização do Sesc Prainha, em parceria com a Associação dos Cronistas Poetas e Contistas Catarinenses (ACPCC). O objetivo principal da oficina é o incentivo à escrita de forma prática e educativa, contribuindo com as ações destinadas ao protagonismo do público 50+, que o Sesc desenvolve.
Neste semestre, a ação contou com a participação de 19 inscritos que, ao longo de 13 encontros, produziram textos, poesias, crônicas e diversas outras modalidades através de atividades planejadas e desenvolvidas pelos “facilitadores”, denominação conferida aos Escritores de ACPCC, Instituição parceira do Sesc Prainha na realização: Antônio Henrique Botticelli Pereira Mattana de Souza, Augusto Cesar de Abreu Teodoro, Hans Christian Wiedmann, Resilamar Florência Machado, Soeli dos Santos de Menezes e Valmir Vilmar de Sousa. Os encontros foram acompanhados pela técnica de Grupos do Sesc Prainha, Arlei Souza Borges e pela estagiária de Grupos, Patrícia Antônio Fortunato Barreto.
A metodologia dos encontros se deu de forma muito aconchegante e descontraída, onde cada participante escrevia a partir dos exercícios norteadores, com duração de uma hora e trinta minutos (semanalmente) a partir das reuniões de planejamento com os facilitadores e a equipe da Unidade Sesc Prainha.
Todos os textos foram reproduzidos o mais fielmente possível aos trabalhos originais dos autores e deram origem a uma Antologia – por definição é o conjunto formado por diversas obras que exploram uma mesma temática, período ou autoria. Na literatura, por norma, as antologias são formadas por diferentes textos (prosas ou versos), que são organizados dentro de um único volume, formando uma coletânea (coleção) de obras que abrangem um tema, período histórico ou autor específico, que é o caso desta produção.
Para encerramento dos encontros da Oficina de Escrita foi realizado um “Sarau” no dia 09 de dezembro, com a presença de todos os integrantes e convidados na biblioteca do Sesc Prainha, em Florianópolis. E abaixo você pode conhecer um pouco desta Antologia intitulada “Mosaico de Palavras”, iniciando pela fala dos facilitadores e em seguida alguns textos contidos na obra.
“Sinto-me abençoado em fazer parte da Oficina de Escrita como facilitador. Se por um lado, dividimos um pouco que sabemos; por outro, recebemos em troca muito mais. Gratidão aos participantes desta oficina, aos facilitadores e ao Sesc Prainha pela confiança”. Augusto de Abreu, Presidente da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses e Integrante da Academia São José de Letras.
“Repetir a experiência foi ao mesmo tempo um desafio maior e uma libertação. Desde o primeiro dia notei a diferença, não que tenham tantos rostos novos, mas por estar diante de um cenário já conhecido, que me deixou tranquilo para agir. E também pude sentir uma boa vontade dos meus colegas escritores, que se jogaram de cabeça no projeto. Todos estavam se divertindo, se emocionando. E isso me fez ficar muito confiante de que vai ficar cada vez melhor”. Antônio Henrique Botticelli, Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses e membro da Academia Literária e Artística de Santa Catarina.
“Ter oportunidade
De ser um facilitador
É sentir imenso prazer
De ver ilustres receptores
Se capacitando ao escrever.
É um imenso prazer poder atuar como facilitador da Oficina de Escrita”. Hans Christian Wiedemann, Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses e participante da Dança Circular Sesc Prainha.
“Ser facilitadora foi mágico. Transformar, estimular a criação de textos foi incrível. Essa transformação nas pessoas no começo é difícil, mas linda no final. É uma grande metamorfose. Obrigada, muito obrigada, pela oportunidade. Resilamar Machado, Grupo Memória Digital e Grupo de Teatro e Canto Sesc Prainha.
“Como da primeira vez, sinto que cresço nesta troca de tão importante conhecimento ao participar como facilitadora, também, nesta segunda Oficina de Escrita. Agradeço a Arlei e a Patrícia por nos terem coordenado com tanta habilidade.” Soeli dos Santos de Menezes, Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses.
“Somos todos aprendizes, como também mestres diante do que sabemos. Nesta segunda oficina da escrita me sinto mais maduro, mais confiante nos meus propósitos, fruto da experiência e da vivência anterior. Palavra que resume todo meu sentimento: GRATIDÃO. Gratidão ao Sesc Prainha por me proporcionar esta oportunidade única de aprendizado e crescimento. Gratidão pela acolhida junto aos demais, gratidão pela interação”. Valmir Vilmar de Sousa (Vevê), Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses e Academia Literária e Artística de Santa Catarina.
“Mosaico de Palavras”
MEUS VELHOS TÊNIS DE CORRIDA
Quando, no ensino médio, eu precisei fazer algum esporte, logo optei pela corrida, visto que da casa pro colégio era uma longa pernada. Minha mãe me presenteou com um belo par de tênis brancos, muito na moda, e passei a ir pra aula com eles todo dia. Foi um sucesso no começo, recebi muitos elogios. Mas, com o tempo virou assunto comum e me esqueci disso.
Depois de anos, com as corridas matinais e as ocasionais vespertinas, meus tênis não era mais tão branco, quiçá poderia ser chamado de cinza. Ainda assim eu os amava, e estava ruminando para aposentá-los. Um dia não foi mais possível enrolar. A sola ficou tão gasta que logo desprenderia. Então, assim como faria com o colégio, eu me despediria deles.
Nos últimos de aula eu os carreguei comigo, por questão de honra. No fim de uma exaustiva sessão de biologia, o pessoal se reuniu para assinarmos os cadernos e camisetas uns dos outros. Quando eu estava me virando para tirar a blusa que usava...
— Ahn-ahn! Nós queremos os lendários tênis!
Meus olhos encheram de lágrimas. Corri para o banheiro para dar uma rápida limpada neles e voltei para deixar meus amigos os marcarem com mensagens boas.
Hoje tenho vários pares novos para praticar e competir. Mas aqueles brancos estão lá, na prateleira de troféus. Primeiros e únicos.
ANTÔNIO HENRIQUE BOTTICELLI (TON BOTTICELLI), Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses e membro da Academia Literária e Artística de Santa Catarina.
NUNCA VOU ENTENDER MINHA MÃE
Era hora do almoço de domingo.
Estavam sentados à mesa Gilmar, pai de Guilherme e Vini, filhos de Margarida e
Gilmar.
Dona Margarida preparava o almoço, enquanto isso, Guilherme pensava com seus botões e seu estômago nervoso: “meu Deus, o que será que vamos comer hoje? Quase nunca vi minha mãe cozinhar, mas de uma coisa eu sei: por mais que ela tente, não sai boa coisa”.
Começou a sentir o cheiro da comida, que vinha da cozinha. Pensou em voz baixa: que diabos de cheiro é esse? De comida queimada não é, pois esse cheiro conheço muito bem. Toda vez que minha mãe cozinha, ela deixa queimar algo. Acho que é por isso que ela casou com um bombeiro.
Mal acabara de pensar, Margarida veio com o almoço em uma grande bandeja. Colocou sobre a mesa arroz, salada de alface tomate e ovos cozidos, 4 bifes pequenos (um para cada um) e uma comida que Guilherme desconhecia.
Guilherme curioso e não contente em apenas em ver, tentou tocar aquele creme amarelo com alguns grãos de milho verde, que ele desconhecia. Logo foi surpreendido com um tapa na mão e uma repreensão de sua mãe:
— Não mexa na comida, Guilherme. Comida é para comer com os talheres e não com as mãos.
Guilherme, novamente, começou a pensar com seus botões e seu estômago ainda mais nervoso e divagava: será que as mães dos gregos e romanos também batiam nas mãos dos greguinhos e dos romaninhos quando eles comiam com as mãos?
— Para de pensar, Guilherme, e coma; disse Margarida.
— Esse troço amarelo eu não como.
— Esse troço amarelo que você fala é suflê de milho.
— Pode ter o nome que tiver, eu não como.
— Por quê?
— Porque não gosto.
— Já experimentou?
— Não, mas sei que não gosto.
— Se não experimentou, como sabe que não gosta?
— Porque sei.
— Guilherme Guimarães, só vou falar mais uma coisa: coma, senão te bato!
Depois de tanto convencimento de sua mãe, Guilherme pegou com a ponta da colher um pouco de suflê, colocou no prato e experimentou, sem antes orar para todos os santos que ele conhecia para ser gostoso. Experimentou e não gostou. ADOROU.
Colocou mais suflê em seu prato, devorou, colocou mais, e devorou novamente e de novo e ainda mais uma vez; até que foi interrompido por Margarida.
— Para de comer senão eu te bato.
Guilherme ficou confuso. Se não como, apanho; se não como, apanho também.
Nunca vou entender minha mãe.
AUGUSTO DE ABREU, Presidente da Acpcc e Academia São José de Letras.
ENVELHECER É...
Envelhecer... é experiência adquirida, depois de alguns anos vividos – mais de 50, com certeza.
Envelhecer é a soma de realizações.
Estudo, trabalho, casamento, filhos, netos...
Ser criança é bom? Às vezes. Quando você nasce em uma família estruturada, não digo só em dinheiro, falo emocional.
Ser jovem é bom? Às vezes. Depende da família e também da sua personalidade.
Ser adulto é luta, muita luta para conseguir chegar onde se deseja e às vezes... pelo caminho... quantos impedimentos. E muitos se perdem, mas outros conseguem se encontrar.
Agora envelhecer... com saúde e liberdade... depois de cumprir os compromissos, vamos fazer o que falta para aproveitar melhor a vida.
Vamos para o Sesc? Viajar, cantar, fazer esporte, fazer amigos...
Hoje eu só posso dizer que sou feliz, não tenho dívida nem problemas e tudo que é possível... estou fazendo.
DELMA AMORIM, Oficina de Escrita e Pilates Sesc Prainha.
SOLTE-SE
Solte-se! Fuja das amarras
Tire as algemas que te travam
Sinta o coração voar...
Solte-se! Procure outro caminho
Ninguém anda sozinho
O jeito é reinventar
Não fuja, aguente o que for
Uma desilusão, uma dor de amor
Ou uma nova situação
Que fez sofrer o coração
Solte-se! Viva, ande, corra, saia por aí
Procure a felicidade
Não queira viver a saudade.
Não se prenda na idade.
Solte-se! Se quiser o mundo conquistar
Se quiser um amor encontrar ou amigo abraçar.
Solte-se, saia da escuridão
Sempre há quem estenda a mão
Não importa aonde ir, escute o seu coração.
Fuja se não quiser voar
Se não deseja caminhar
E uma vida nova buscar
Entregue-se, chore, reze
Implore aos céus e ore
O jeito é recomeçar
Solte-se!...
LÊDA MÔNICA, Academia de Canto e Letras do Ceneti/UFSC e Coral “Vozes Da Ilha” Neti/UFSC.
20 SEGUNDOS DE CORAGEM
Uma vez, assisti a um filme que me marcou muito, pois a pessoa relatava que 20 segundos de coragem foram o grande marco da sua história.
Aprovei e adotei esse princípio. Em momentos que estava muito cansada, ou desanimada, pensava:
- Então vamos lá, respira fundo, calcula 20 segundos de coragem e vá em frente!
E acreditem se quiser: é sempre muito energizante e motivador!
O silêncio, quanto nos faz falta, a mim pelo menos é muito importante... ouvir o silêncio... aprendi também em uma palestra, muito gratificante e elucidadora, que quando estamos em silêncio podemos ouvir o nosso “Eu maior”, falando conosco, nos indicando o caminho a seguir, nos fortalecendo. Gosto do silêncio como gosto de boas músicas, acordar e ouvir o silêncio, um pássaro a cantar, mas tenho acordado com muito barulho, muitas vezes com marteladas de reformas e construções, ou a escola do lado, com o som muito alto, penso “deveria ser proibido, ao menos respeitado o silêncio até 8h”, pois o acordar é muito importante, pois marcará o início do seu dia, mais uma oportunidade... estou até pensando em comprar algo para os meus ouvidos, pois gosto de levantar bem, normalmente com muito vou humor... preciso resolver isso, talvez até os 20” de coragem.
Acreditar no amor, ter esperança, pensar que a vida que é tão forte e ao mesmo tempo tão frágil, pode nos dar motivação e reencantar para poder continuar.
Aprender com aquilo que a voz interior, que fala bem dentro de nosso coração, e descobrir que terra e Espaço são um só lugar, tem um vínculo unido pelo amor, que somos capaz de sentir ao contemplar a natureza, o silêncio, o cantar de um pássaro...
Olhar com compaixão a tudo e a todos, isso trará ao mundo mais paciência, mais ternura e amor, mais esperança no futuro!
Acredite: o silencio fala muito alto, procure ouvi-lo! Olhar para o caminho, acreditando que a vitória está e ser bom, e ter nos lábios uma palavra de afeto e compreensão, senão é melhor fechar os lábios, e ouvir a voz que vem do coração.
MARIAH CAVALCANTI DA SILVA, Mundo Digital Master do Sesc Prainha.
A BENGALA
A bengala que ficou para lembrar belos dias.
Olhando esta linda bengala do Tom, lembrei imediatamente da bengala da minha mãe. Está guardada no guarda-roupa, ela nunca usou. Aos 98 anos, saia para passear no Shopping, até no Calçadão da rua Felipe Schmidt, no Mercado Público ou Supermercado. Sempre confiante e altiva.
A bengala ficou de lado, o médico dizia:
- Dona Maria, a senhora tem que usar a bengala, pode cair e quebrar a cabeça do fêmur, é muito perigoso. Ela sorria, como se não fosse com ela, e seguia em frente.
Aos 99 anos e dois meses, quando faleceu de pneumonia. A bengala ficou lá, novinha, nunca usada. Hoje olho para a bengala e a saudade bate. Mas, vejo ali o símbolo de resistência de quem nunca se entregou. Só a vontade de Deus, quando a levou.
Saudades, muitas saudades, a bengala lá está para lembrar sua luta de guerreira.
Nunca caiu, nem quebrou um único ossinho.
MARIA DA GRAÇA PEREIRA, Oficinas do Neti/UFSC.
NÓS
A vida é um palco, nós os artistas.
Se não tivermos coragem e força, as cortinas fecham, o espetáculo acaba.
Devemos olhar o tempo com esperança, acreditando no futuro. Somos frágeis, mas a força que existe em cada um de nós é incalculável.
No silêncio pensamos que o amor é mais forte que a despedida, ____ que a esperança é vínculo de vitória?
Quando os lábios se calam, acredite: o coração emana coragem, amor, força. Saudade não dissolve o amor.
RESILAMAR MACHADO (ROSA MORENA), Grupos da Memória e Teatro Master Sesc Prainha.
Envelhecer é...
Semear... colher... ter... sem nunca esquecer o SER.
Ser Eu em todos os momentos da Vida.
A Criança no engatinhar no Aprendizado...
O Adolescente buscando a Auto-afirmação.
O Jovem na busca do próprio espaço.
E o Adulto um tanto preso no Ter.
Mas Todos acumulam o SABER!
Porém é só e somente no Envelhecer que o
Saber toma sua verdadeira forma,
Lamentando a grande fonte: A SABEDORIA.
Nem todos chegam a esta Fonte.
Ela requer muito cuidado, carinho e principalmente AMOR!
O Amor Verdadeiro a Vida, que só possui aquele que soube Envelhecer.
O que para alguns pode representar um Muro de Lamentações, para o
Sábio representa um Grande Privilégio.
TEREZINHA FERNANDES, Oficina de Escrita Sesc Prainha.
SUPERBORRACHA SPLASH
Certo dia, numa sala de aula, as pessoas que ali estavam entraram em polvorosa, pois tinham de criar um super-herói acompanhado de uma história que convencesse a todos. Evidente que, cada qual criara seu personagem no limite de sua criatividade. Fora um tal de escrever, rabiscar, rasurar as parcas folhas colocadas à disposição de todos. Surgira um impasse de como resolver tantos rabiscos em tão poucas folhas, afinal a criatividade correra solta, no entanto, o tempo fora curto demais para tantas criações. Num frenesi sem tamanho alguém sugere um super-herói para resolver os problemas que surgiram. Mas quem? Quem pode solucionar este impasse?
Eis que surge ela, toda garbosa, com vestes coloridas, capa cintilante, máscara fashion, cinto de grife. É a Super-borracha-Splash, limpadora de todos os erros. Temor do lápis e da caneta. Ela limpa, apaga, faz desaparecer seus inimigos num passe de mágica, num verdadeiro esfrega, esfrega. A Super borracha Splash, guardiã dos bons modos para com a escrita, defensora das criancinhas, dos adultos e dos professores, prometera estar sempre de prontidão para salvar a escrita dos garranchos e rasuras.
Salve nossa Super borracha Splash!
VALMIR VILMAR DE SOUSA (VEVÊ), ACPCC e Academia Literária e Artística de Santa Catarina (Aliasc).
Colaboração: Arlei Souza Borges, técnica de Grupos Sesc Prainha.
Sesc Prainha realiza Oficina de Escrita para idosos e o resultado é uma Antologia com 19 escritores
10/12/2019 - Atualizado em 10/12/2019 - 679 visualizações
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