O mês da mulher simboliza a luta feminina por meio de greves, manifestações e várias formas de expressão em busca de direitos e seu lugar de fala na sociedade. A data é também uma oportunidade para refletirmos mais profundamente sobre várias questões, entre elas a luta pela igualdade de gênero em diversos espaços, entre eles na Literatura.
Ao longo da história o papel social da mulher era restrito ao lar e qualquer publicação era inibida ou vista como forma de transgressão. Diversas escritoras usavam com frequência pseudônimos para “burlar” uma sociedade discriminatória a elas. Um exemplo é a autora Mary Shelley que escreveu “Frankstein”, considerada a primeira obra de ficção científica, sendo a autoria inicialmente atribuída ao seu companheiro.
A produção de livros reflete o quanto a participação das mulheres foi relegada. Segundo resultado de pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da UNB, no Brasil, 70% dos livros publicados por grandes editoras, entre 1965 e 2014, foram escritos por homens, apesar de 54% do público leitor ser formado por mulheres. Outro dado que expõe a diferença é que o percentual de mulheres vencedoras de Prêmios literários é bem menor em relação aos homens, como por exemplo, o Nobel de Literatura onde apenas 17 mulheres venceram nas 119 edições.
"Uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio, se quiser escrever ficção" (Virgínia Wolf, escritora)
No ensaio: “Um teto todo seu”, a escritora inglesa, Virginia Woolf, reflete a escassez de escritoras como resultado da opressão feminina por tantos séculos.
Em contraponto, a brasileira Carolina Maria de Jesus, revelada escritora mesmo com todo cenário desfavorável: uma mulher pobre, negra, semialfabetizada, moradora da favela e catadora de lixo. O seu livro “Quarto de Despejo”, de 1960, apresenta anotações do seu diário e inaugura uma escrita autoral negra e feminina articulando na palavra cotidiana a experiência do urbano.
Apesar de ainda sofrermos os impactos diante de uma sociedade machista, é inegável que já avançamos muito na representatividade feminina, não só na autoria, mas também em toda a cadeia de produção do livro. Esta presença reflete também em novas formas narrativas, bem como personagens protagonistas e dilemas e conflitos apresentados pelo ponto de vista delas, mudando o estereótipo de que mulher só escreve temas leves e delicados.
Os relatos do cotidiano de Clarice Lispector, as reflexões de Simone de Beauvoir, dos mundos de Ursula K. Le Guin, o ativismo de Sarah Uriarte citada no episódio 153 do podcast Página Sonora, são pequenos exemplos da amplitude de temas tratados na literatura.
Algo que todas essas autoras têm em comum foi o desafio de romper barreiras de uma sociedade preconceituosa, além de promover a literatura em diversos aspectos, contribuindo na formação de leitores críticos.
E para ajudar a quebrar estas barreiras, é importante que iniciativas e movimentos sociais incentivem e reconheçam o trabalho de escritoras, como por exemplo os clubes de leitura “Leia mulheres” e concursos literários voltados para a escrita de mulheres, como “Philos Mulher” e o “Concurso Literário Maria Firmina dos Reis”.
Acreditando no poder da literatura em transformar este cenário, o Sesc Santa Catarina disponibiliza um acervo das Bibliotecas mais de 130 mil exemplares e busca contemplar com equilíbrio a autoria feminina nas aquisições e nas seleções de títulos para os Clubes de Leitura da instituição, assim como no podcast Página Sonora, que apresenta um panorama da literatura catarinense, e preconiza a presença de mulheres em todas as temporadas.
E para que os leitores conheçam e tenham cada vez mais autoras mulheres na sua lista de livros pra ler, neste mês da mulher, a Rede de Bibliotecas do Sesc realiza o “Biblioteca Inquieta – Mulheres na Literatura".
Biblioteca Inquieta
A programação é gratuita, acontece de 27 a 31 de março, em 28 Unidades do Sesc Santa Catarina. Serão realizadas mediações de literatura através de diversas linguagens artísticas com apresentações, performances, oficinas, debates, entre outras ações permeadas por muitas indicações de leitura do acervo das bibliotecas.
O evento busca promover reflexões críticas, por meio de uma bibliografia que procura dar voz para as autoras e suas narrativas, contribuindo para uma sociedade democrática, sem preconceito e discriminação.
Confira algumas autoras catarinenses que estarão presentes no Biblioteca Inquieta ou que terão suas obras evidenciadas: Ibriela Bianca Sevilla, Catia Cernov, Daniela Stoll, Bill Or, Isadora Krieger, Mariana Cazella Maciel, Edla Zim, Sandra Regina Lodetti, Cris Vasques, Carolina Corbellini Rovaris, Eneida Figueredo, Marina Medeiros, Renata Dal-bó, Leticia Cordeiro entre outras.
Confira aqui a programação completa do Biblioteca Inquieta
Com colaboração de Marilaine Hahn, Analista de Cultura do Sesc-SC
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