Rogério Negrão reinventa Joinville em "Cidade Fabricada"
No dia 19 de julho (sexta-feira), às 19h, acontece a abertura da exposição "Cidade Fabricada" do artista visual Rogério Negrão, na Galeria do Sesc Jaraguá do Sul. A mostra apresenta objetos e trabalhos de colagem digital com paisagens ficcionais e ambientes urbanos distópicos criados pela manipulação de fotografias e outras imagens técnicas. Com curadoria de Gleber Pieniz, a mostra pode ser visitada gratuitamente de 22 a 31 de agosto de 2024, de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h
Em "Cidade Fabricada", Rogério Negrão propõe um exercício de reflexão entre o passado e o futuro tendo a cidade de Joinville como objeto, ambiente historicamente construído por ideias e processos materiais, mas também fabricado por tradições, falácias e crenças em sensos comuns que não se confirmam senão como lendas. A exposição apresenta 20 colagens digitais e um objeto tridimensional como produtos de uma indústria mental puramente fantasiosa que se vale de fotografias, desenhos técnicos, registros de patentes, plantas baixas, mapas e outras imagens documentais manipuladas para forjar paisagens tão familiares quanto irreais e estimular simultaneamente a noção de pertencimento à cidade, mas também a reflexão sobre um lugar estranho mesmo aos seus habitantes.
Rogério Negrão (Tejupá/SP, 1962) é artista visual e designer de produtos. Desde 2006 trabalha artisticamente com desenhos, vídeos, fotografias, instalações sonoras, colagens digitais e objetos interativos. Participou de mais de 20 exposições em Joinville (Coletiva de Artistas, Salão dos Novos, Artecidade e Out[art]), em Blumenau (Salão Elke Hering), em Chapecó (Panorama), em Florianópolis (Desterro desaterro, MASC 70 anos) e de duas edições do projeto Pretexto do Sesc em Joinville e em Jaraguá do Sul. Entre suas exposições individuais destacam-se "Fronteiras" (2009), "Agoras" (2011) e "Máquinas do abismo" (2016-2017, em Joinville, Chapecó e Florianópolis).
Serviço:
O QUE: Exposição Cidade Fabricada de Rogério Negrão com curadoria de Gleber Pieniz.
ONDE: Galeria de Arte do Sesc Jaraguá do Sul, Rua Jorge Czerniewicz 633, Czerniewicz.
QUANDO: abertura em 19 de julho, sexta, às 19 horas. Visitação gratuita de 22 de julho até 30 de agosto de 2024, 9h às 19h (segunda a sexta-feira).
Agendamentos escolares e visitas monitoradas pelo WhatsApp: (47) 3275-7806
Imagens de obras
Texto Curatorial
Há tempos Rogério Negrão se dedica ao projeto de improbabilidades, senão à própria construção do impossível: suas máquinas de sonho e seus dispositivos de eficiente inutilidade servem antes à utopia poética do que aos pretextos vulgares do uso e da função. Como artista, saqueia sua formação de designer e a coloca a serviço de um pensamento tão fantástico quanto subversivo, indústria puramente mental que, na exposição Cidade Fabricada, reinventa a linha de produção, o espaço urbano e a paisagem que se estende além dele.
Os trabalhos apresentados por Negrão revelam a urbe como um vácuo performativo preenchido pela imaginação, lugar onde estruturas narrativas contraditórias emergem de uma aparente neutralidade e se consolidam como verdade à medida que vão sendo esquematizadas como formas de planejamento e de controle. Neste silêncio de caleidoscópio, uma sucessão de cores artificiais, ambientes simulados e imagens manipuladas sugere sentidos tão desconcertantes quanto mais objetivas forem suas origens: desenhos técnicos, registros de patentes, plantas baixas, mapas em escala e fotografias de paisagens familiares colocam o olho e a consciência em deslocamento, em incessante movimento entre a certeza e o perigo, entre a rotina e o pesadelo, entre o delírio cartesiano e a lógica ficcional.
Inóspita como imagem, a arte de Negrão tensiona um arco que parte de da Vinci, se distende até um pouco mais além de Cronenberg, arrasta Warhol e Lygia Clark em sua elegante parábola e, neste trajeto, restitui ao público a imprescindível tarefa de povoá-la. Cada um de seus trabalhos nos propõe um tempo presente suspenso em lugares de ilusória comodidade, espaços distópico-disfuncionais entre um passado de signos nostálgicos e um futuro de opacidade atmosférica que devem ser preenchidos com medidas muito particulares de razão, de senso crítico e de sensibilidade para que possam, enfim, não apenas serem chamados de cidade, mas principalmente darem lugar à cidadania.
GLEBER PIENIZ
curador, jornalista, coordenador do Laboratório de Arte
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