O Dia da Consciência Negra (20.11) é marcado como a data que destaca a importância de discutir e refletir sobre os aspectos da negritude no Brasil, sobre o que é ser negro neste país.
Ressalta-se aqui, em especial, o que é ser artista afro-brasileiro. Nos últimos tempos, observamos os avanços nos debates em torno da temática, gerando mais espaços para que pessoas negras possam conquistar sua posição de direito na literatura e em outras linguagens ou expressões artísticas.
O podcast Página Sonora evidencia essas criações, com ênfase na literatura!
Negros e negras sempre foram potencias de concepção e proliferação de pensamento e de arte, que apesar do apagamento histórico e da invisibilidade, seguiram e seguem gerando cultura.
O poeta Cruz e Sousa, nascido em 1861 na antiga Desterro (hoje Florianópolis), é um dos expoentes da literatura brasileira e deixou-nos um legado inestimável de produção poética, como “Faróis”, “Broquéis”, “Evocações” e outros. Hoje, o Cisne Negro, obra do artista Rodrigo Rizo, representa o poeta em um mural de 900 metros no paredão do edifício João Moritz, ao lado do jardim do museu com seu nome. A jornalista, professora, escritora e primeira mulher, e negra, eleita do Brasil, Antonieta de Barros, também é homenageada em uma das mais importantes ruas do centro de Florianópolis na obra dos artistas Thiago Valdi, Gugie e Tuane Ferreira.
Para refletir, o projeto Página Sonora propõe a seus ouvintes conhecerem um pouco mais da literatura escrita por negros e negras em solo catarinense ou que por aqui deixaram seu legado.
O podcast conta com clássicos, como o poeta Cruz e Sousa, e com novos escritores da cena literária catarinense, como Mariana Queiroz, Bruna Barreto, André Pinheiro, e Osíris Duarte. Em comum, a negritude como vivência e o amor pelas palavras.
Nas estantes das nossas Bibliotecas os leitores encontram:
Para além do Página Sonora, a Rede de Bibliotecas Sesc-SC possui um acervo variado com mais de 130 mil exemplares, entre os quais contamos com livros infantis e adultos de escritores e escritoras negras, nacional e mundialmente conhecidos. Os leitores encontram, em nossas estantes, nomes como Chimamanda Ngozi, Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Oswaldo Faustino e muitos outros.
Convidamos os ouvintes do nosso podcast a visitarem as Bibliotecas do Sesc-SC e conhecerem um pouco mais desses escritores, não somente nas datas previstas em calendário como efemérides da consciência negra, mas em todo o decorrer do ano.
O que é ser escritor(a) negro(a) em Santa Catarina?
André Pinheiro
"Ser escritor negro em Santa Catarina é lidar com a diversidade de culturas e fazer parte desta diversidade. Em muitos momentos, é ser visto como “o outro”, o estranho, aquele que apresenta contraste.
Ser escritor negro é enfrentar, cotidianamente, o colorismo, o boicote e os questionamentos, muitas vezes descabidos, à sua arte.É ser visto como alguém que deveria estar “trabalhando” (em atividade braçal ou servil) ou fazendo qualquer outra coisa, mas não escrevendo. Ser escritor negro em Santa Catarina, é reafirmar, a cada dia, a sua força, que vem justamente da palavra. E, a partir da potência da palavra, enunciar a crítica social e reavivar a esperança e a resistência."
Bruna Barreto
[Crédito foto: Bolívar Alencastro]
"Ser uma escritora negra no Sul, é um grande desafio, as vezes é frustrante, mas pessoas que encontramos pelo caminho fazem tudo valer a pena.
Aqui em Floripa um escritor negro ajuda o outro e assim vamos. Fora o Sesc que é um dos lugares que mais me abre portas, a maioria das minhas apresentações aconteceram por conta de pessoas negras como Dandara Manoela, François Muleka, Paola Kirst, etc. É desafiador, mas cada vez mais estamos ocupando espaços!"
Osíris Duarte
"Ser escritor e negro em SC não é tão diferente de ser as duas coisas em qualquer lugar do Brasil. O desafio está em romper uma barreira de invisibilidade que, aqui, por vezes, torna-se maior.
O reconhecimento da existência de Cruz e Souza, por exemplo na cultura local, é algo muito recente e ambíguo em certa medida, porque um painel não abre oportunidades, não rompe por si a invisibilidade, quando apenas uma decoração artística. Construir uma narrativa negra daqui é uma tarefa entregue com bastante atraso. Porém, mais cedo ou mais tarde, há de se fazer ela e, hoje, mais do que nunca, parece que o debate da existência de artistas negros em SC finalmente está vindo à tona."
Episódios com obras de autores negros e negras no Página Sonora
Cruz e Sousa
Ouça neste episódio do Página Sonora, um trecho do poema "Emparedado", do livro "Evocações" de Cruz e Sousa, publicado pela editora Nova Aguilar em 1995.Bruna Barreto
Ouça neste episódio do Página Sonora, um trecho do livro "Nossa poesia", de Bruna Barreto, publicado pela editora Insular em 2019.Osíris Duarte
Ouça neste episódio do Página Sonora, dois poemas do livro "O jogo de espelhos: crônicas poéticas", de Osíris Duarte, publicado pela editora Butecanis em 2020.Mariana Queiroz
Ouça neste episódio do Página Sonora, três poemas do livro "AVOA" de Mariana Queiroz, lançado em 2021 pela editora Urutau.
André Pinheiro
Ouça neste episódio do Página Sonora, três poemas do livro "Palavr'alada", de André Pinheiro lançado em 2021 pela editora Ipê Amarelo.
Texto: José Augusto da Silva Neto, analista de Programação Social no Departamento Regional do Sesc de Santa Catarina e Luciana Tiscoski, técnica de Cultura do Sesc Estreito (Florianópolis) e Palhoça.
Você já escutou o podcast “Página Sonora” da Rede de Bibliotecas Sesc-SC?
Já são 95 episódios disponíveis, que destacam desde produções literárias mais antigas e contemporâneas, realizadas por autores catarinenses ou radicados no Estado. Tem poesia, crônica, conto, trechos de romances, novelas e textos de teatro, o que garante ao público ouvinte uma programação com dinamismo e diversidade.
A cada mês são lançados 5 novos episódios, com leituras de trechos dos livros. A narração é realizada por colaboradores de Cultura do Sesc-SC e convidados de outras áreas, com trilhas sonoras criadas por instrutores e alunos dos cursos de música da Instituição. Os programas de novembro já estão no ar no Spotify, Google podcast, Anchor e YouTube e apresentam trabalhos recentes de cinco escritores contemporâneos.
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