
Circulação musical
A 27ª edição do Sonora Brasil começa a circular pelo país este mês de junho, levando ao público espetáculos produzidos especialmente para o projeto. O lançamento será nos dias 27 e 28, no Sesc Glória, em Vitória (ES), e contará com a presença de representantes dos 10 grupos musicais que integram o circuito. O evento também será palco do pré-lançamento da série documental Sonora Brasil – Encontros, Tempos e Territórios, produzida pelo SescTV, com a exibição do episódio sobre Chau do Pife e Andréa Laís.
Promovido pelo Sesc com objetivo de apresentar programações musicais com temáticas relacionadas à cultura brasileira, o Sonora Brasil trabalha o biênio 2024-2025 com o tema “Encontros, tempos e territórios”. Por meio do encontro entre artistas de diferentes gerações e regiões, foram produzidos shows inéditos, com uma mistura de ritmos e vivências, que mostram a relação entre tempos históricos e territórios nas criações artísticas de diferentes movimentos da música popular brasileira. Até novembro, serão 145 apresentações em 42 cidades, além de 31 ações formativas.
“O Sonora Brasil consegue traduzir essa riquíssima diversidade cultural brasileira ao reunir artistas de diferentes gerações, de formações musicais e preferências tão distintas. Ficamos felizes por esses dez grupos terem aceitado o nosso desafio de criar espetáculos inéditos para trazer ao público essa riqueza que só um país tão multicultural como o nosso consegue produzir”, comemora Janaina Cunha, diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc.
Em 2025, os artistas que percorrerão as regiões Norte e Nordeste são Chau do Pife e Andreia Lais (AL); Fandango Mestre Zeca e Melina Mulazani (PR); Fernando Cesar e Tiago Tunes (DF); Bado, Quilomboclada e Sandra Braids (RO) e Charlles André e Luciane Dom (RJ).
No circuito Sul, Sudeste e Centro-Oeste circularão Mãe Beth de Oxum, Surama e Henrique (PE); Mestre Negoativo e Douglas Din (MG); Seu Risca e Ana Paula da Silva (SC); Geraldo Espíndola e Marcelo Loureiro (MS) e Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro (PA).
Em Santa Catarina as apresentações acontecem de agosto a novembro, em Lages, Criciúma e Joinville. A programação será divulgada previamente nos canais de comunicação do Sesc-SC.
Grupo catarinense na estrada
Seu Risca e Ana Paula Silva e banda. Foto de Gabriel Bazt
O quilombola mestre de Catumbi, Seu Risca, e a premiada pesquisadora e cantora Ana Paula da Silva são os representantes de Santa Catarina no circuito nacional e irão mostrar para o Brasil a nossa riqueza da música afro-brasileira. O espetáculo produzido especialmente para o projeto traz um diálogo entre as canções nascidas na vivência de Ana Paula da Silva com manifestações populares de SC e os cânticos entoados por mais de 50 anos pelo Seu Risca.
Trata-se de um encontro de vozes e batidas de tambores destes dois artistas, acompanhados da sonoridade de instrumentistas experientes em manifestações culturais. Bateria e percussão, baixo elétrico, sax e flauta, viola, violões e coro caminham pelo Catumbi, pela Dança do Vilão, por rezas de caboclas e caboclos. As canções buscam proporcionar reflexões, surpresas e curiosidades ao que pulsa pela Baía da Babitonga e pela região do planalto serrano catarinense.
Ficha técnica do show
Seu Risca: Voz e Tambor
Ana Paula da Silva: Voz, Violão e Percussão
Clariô Silva: Voz e Percussão
Rodrigo Paiva: Bateria
Tamiris Duarte: Baixo Elétrico
Arthur Boscato: Viola e Violão 7 Cordas
Fábio Mello: Saxofone Soprano e Flauta
Ana Paula da Silva
“Canto porque nesse instante posso ser eu, inteira, no agora, em meu sopro divino”.
Ana Paula da Silva nasceu em Joinville-SC, como ela diz com orgulho, localizada na Baía da Babitonga. Foram muitos caminhos percorridos e vividos, desde os primeiros shows em 1996, até o último álbum, "Remanso" (2023). Além de cantora, compositora e produtora, ministra oficinas de música.
Em 2001, sua canção "Samba da Bicicleta" foi premiada no 1º Festival do Sesc-SC. Morou na Itália e Áustria, onde produziu os dois primeiros álbuns, "Canto Negro" (2006) e "Por Causa do Samba" (2006). De volta ao Brasil, veio a maternidade com a chegada da filha, e hoje artista, Clara da Silva.
Em 2008, lançou o livro-CD "Contos em Cantos", junto com o artista Humberto Soares. Premiada no Projeto Pixinguinha, lançou "Aos de Casa" (2009), voltado para artistas catarinenses.
O samba, sempre presente, foi contemplado no Pé de Crioula (2010). Bem acolhido pelo público, a levou em turnês no Brasil, Europa e América do Sul, chegou a morar na Argentina.
Em 2014, o projeto Ana Paula da Silva Trio, junto com Davi Sartori e Willian Goe, originou Raiz Forte (2016) e Canto da Cigarra (2017), trabalhos que renderam os prêmios de Melhor Cantora do Prêmio da Música Brasileira-2017; Melhor Cantora e Autora da Região Sul do Prêmio Profissionais da Música-2023, dentre outros.
Mestra pela UDESC, pesquisou a memória do ritual afro-brasileiro Catumbi de Itapocu. Com a pesquisa, escreveu o livro Alma na Voz e Mãos no Tambor, um mapeamento de práticas de tradição oral de comunidades afro-brasileiras, incluindo o Catumbi, indígenas e açorianas da Baía da Babitonga.
Por: Walter Guimarães
Seu Risca
“O Catumbi é um amor dentro da gente. Desde criança quando dançamos, quando cantamos, quando estamos juntos, tudo arrepia. Esse é o sinal que alguma coisa de bom tem”
Antonio Bernardino Filho é o nome de nascimento, mas todos o chamam de Seu Risca. Nasceu no distrito de Itapocu, no município de Araquari-SC, um dos que formam a Baía da Babitonga. Lá o garoto “esperto, estudioso, bom de bola”, como ele mesmo diz, trabalhou na roça da família. Produziam milho e mandioca, para vender farinha na feira e a miúdo pelos caminhos traçados.
Aos 18 anos se mudou para Joinville, era hora de servir o Quartel, para depois ir trabalhar na indústria. Nesse tempo participou da criação do Kênia Clube, primeiro espaço voltado para negros em Joinville. Bailes, música e as domingueiras animavam a cidade. Até hoje a casa dos Bernardinos é musical, Seu Risca comanda o surdo e o tantã.
O Catumbi entrou na sua vida aos 14 anos e participou até completar 65. Foi Dançante e Tamboreiro, ofício que aprendeu com o irmão Pedro e o mestre Jaime. Com a esposa, Dona Bela, já foram coroados Rei e Rainha do ritual, sinal de prestígio e liderança.
Sempre buscou seguir o ritmo dos mais velhos, sem inventar. Defende a tradição centenária da manifestação cultural. A voz marcante se destaca no CD Catumbi do Itapocu, lançado pelo Sesc.
Além de filhos músicos, tem o apoio da esposa e da filha Alessandra, criadora do projeto Catumbi Mirim, selecionada entre as 30 melhores experiências pedagógicas contra o racismo no Brasil. A família é considerada um elo entre o passado e o presente, orienta a luta pela vida do Catumbi.
Por: Walter Guimarães
O encontro entre Seu Risca e Ana Paula da Silva
“Olha quanta beleza aqui nesse chão. Terra de rio antigo, nome Sertão. Tem um povo querendo se alegrar. Essa gente trabalha tanto, pra sonhar”
Dois escravos estavam sendo perseguidos quando chegaram na beira de um rio. Sem saberem nadar, pediram ajuda para uma entidade, em troca fariam um culto em seu nome. Uma luz atrapalhou a visão dos perseguidores. Da luz surgiu a imagem de uma mulher, era Nossa Senhora do Rosário. Os escravos confessaram que não sabiam rezar, ela então disse que o culto poderia acontecer com cantos e tambores. Assim nasceu o ritual do Catumbi de Itapocu..
Vindo para o tempo mais presente, chega o ano de 2009. Antonio Bernardino, o Seu Risca, e sua filha Alessandra, entregam para a artista Ana Paula da Silva o CD Catumbi de Itapocu, produzido pelo Sesc-SC. Era o primeiro contato da cantora e compositora com a prática musical religiosa e afro-brasileira da região da Baía da Babitonga, localidade muito conhecida e vivida por Ana Paula da Silva. Seu pai, também Antonio, é de São Francisco do Sul-SC, situada na entrada da Baía. Ali nascia um elo muito forte da artista. Dois anos depois começam a ser ministradas oficinas musicais, canto, tambores e corpo presente, com experiências sonoras e humanas relacionadas com manifestações populares brasileiras.
Seu Risca e Ana Paula da Silva possuem muitos sentimentos em comum, um deles que se destaca é a memória. Ele sempre está preocupado se os mais jovens conseguirão entoar os cânticos a partir da fé que move o ritual do Catumbi, a homenagem à Nossa Senhora do Rosário. Ela almeja ir de encontro às manifestações populares da região onde nasceu. Como pesquisadora e compositora, busca apresentar uma intensa fonte de inspiração artística e humana.
Deste convívio com o Catumbi, frutos já nasceram. Ana Paula da Silva se tornou Mestra em Música na linha de Processos Criativos, pela UDESC, com a pesquisa Catumbi do Itapocu: Uma fonte de criação musical. Na pesquisa em campo, nasceram seis canções embasadas na poética do Catumbi. Em 2022, nasceu o livro Alma na Voz e Mãos no Tambor, com o Catumbi e outras manifestações afro-brasileiras, indígenas e açorianas da região.
A artista busca gerar reflexões que possam originar ações de encontro a essas comunidades. Este aprendizado é uma forma de reconhecimento, autoafirmação e luta contra a invisibilidade de práticas populares e das comunidades.
A história oral, desde os escravos fugitivos, dos depoimentos dos envolvidos as citadas práticas musicais, tudo isso agora ganha outro tipo de oralidade: a voz e sonoridade de uma artista premiada nacionalmente e com carreira reconhecida internacionalmente.
Por: Walter Guimarães
Sobre o Sesc-SC
O Serviço Social do Comércio (Sesc) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que integra o Sistema Fecomércio, Sesc e Senac - sob a presidência do empresário Hélio Dagnoni. Desde 1946, o Sesc transforma para melhor a vida de milhares de catarinenses, se destacando pelo caráter social e atuação em todo o país.
O conjunto de iniciativas ao longo destas sete décadas e meia representa o efetivo empenho dos empresários do comércio de bens, serviços e turismo em prol da missão da Instituição de: "promover ações socioeducativas que contribuam para o bem-estar social e a qualidade de vida dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, de seus familiares e da comunidade, para uma sociedade justa e democrática".
Entre as principais atribuições do Sesc estão o planejamento e a execução de ações marcadas pela excelência nas áreas de Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência, com vasta oferta de eventos e serviços. A Instituição está presente em todas as regiões do Estado, com 32 unidades operacionais, três meios de hospedagem e nove quadras do projeto Sesc Comunidade, além das redes de escolas, restaurantes, clínicas, teatros, bibliotecas, academias entre outros espaços, onde realiza suas ações.
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Contraturno escolar, Educação de Jovens e Adultos, Pré-vestibular, atividades de saúde preventiva, de incentivo à prática de atividades físicas e esporte, Odontologia, Nutrição, Cinema, Teatro, Música, Artes Visuais, Dança, Desenvolvimento Comunitário, Trabalho Social com Idosos, Trabalho com Grupos compõem o amplo leque de atividades que o Sesc oferece aos trabalhadores do comércio de bens, serviços, turismo, seus familiares e à comunidade em geral. São ações que favorecem crianças, jovens, adultos e idosos e provocam reais transformações em suas vidas.
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