Todo mundo sabe que uma criança precisa de amor para se desenvolver plenamente. Essa é uma das necessidades básicas e fundamentais do ser humano: amar e ser amado. Muitas vezes, acreditamos que estamos transmitindo o amor que sentimos, mas será que nossos filhos estão recebendo essa mensagem?
Fazer tudo por eles, realizar todos os seus desejos, dar total liberdade, tentar evitar ao máximo as suas frustações. Para muitos pais, essa é a forma de expressar amor. Mas será que está dando certo? Segundo o artigo do psiquiatra Luis Rojas Marcos replicado em diversos sites, infelizmente não!
O profissional chama a atenção das famílias para um aumento considerável de problemas de saúde mental entre as crianças. Segundo ele, as estatísticas dos últimos 15 anos indicam que uma em cada cinco crianças tem problemas de saúde mental; um aumento de 43% no Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH); de 37% na depressão adolescente; e de 200% na taxa de suicídio em crianças de 10 a 14 anos.
São números apavorantes, mas que servem de alerta às famílias. Não podemos mais fechar os olhos. Precisamos parar, refletir, conversar e identificar o que está acontecendo dentro das nossas casas. Assim que tivermos a percepção do que estamos fazendo de errado – mesmo que com amor –, conseguiremos focar nossa energia transformadora e buscar as ferramentas para reverter esse quadro.
Cinco sentidos
Para ajudar a compreender melhor tudo isso e trazer algumas soluções, conversamos com a psicóloga Fabíola Stenhaus Pires que atende no Sesc Estreito, em Florianópolis. Ela introduz o assunto pelo que acredita ser o básico para uma infância feliz e saudável, mas que ainda precisa ser explorado: os cinco sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar.“Primeiramente, precisamos olhar para os nossos filhos. E esse olhar vai além do enxergar, é atenção, é estar voltado para a criança. Eles precisam da nossa escuta, da nossa interpretação sobre o que querem nos comunicar. O toque, o abraço, é carinho, acolhimento e compreensão sobre o corpo. O paladar, que é aguçado logo após o nascimento pelo leite da mãe. Por fim, o olfato, um cheirinho por si só é uma expressão de afeto”, reforça Fabíola.
A família proporciona o primeiro e mais importante contexto interpessoal para o desenvolvimento humano. Principalmente no início da vida, as crianças precisam de muitos cuidados, atenção, segurança, proteção, alguém que cuide da alimentação, da higiene, dos horários de sono, dos estudos, que perceba quais são as suas demandas, que incentive as potencialidades e apresente o mundo. O desafio para os pais, é fazer tudo isso de maneira equilibrada e eficaz.
Responsabilidade
São relações que estabelecem limites, responsabilidades, expressões de afeto e comportamentos essenciais para o desenvolvimento saudável. “Somos responsáveis por essas vidas e precisamos buscar os nossos melhores recursos para ajudar na construção de um ser humano equilibrado. Quando colocamos uma vida no mundo as coisas mudam, mas isso não é para sempre, é por um período. Temos que pensar que estrutura estamos oferecendo, quais valores estamos transmitindo no dia a dia, nas experiências práticas”, complementa.No entanto, está faltando convívio e tempo de qualidade, por isso as crianças estão produzindo esses sintomas, acredita Fabíola. “Elas estão cada vez mais abandonadas emocionalmente, porque os pais estão muito ocupados. Não estão tendo tempo e nem conseguindo gerenciar o seu tempo”, constata.
Ao fazer um raio-x da maioria das casas percebemos pais estressados, que trabalham exaustivamente o dia inteiro, que estão sobrecarregados, distraídos com a tecnologia e que têm pouco contato com seus filhos. “No consultório, peço como tarefa de casa aos pais, sentar 15 minutos sem smartphone, simplesmente para fazer o que as crianças demandam naquele momento. Mas esse curto espaço de tempo tem se revelado muito para algumas pessoas”, alerta a psicóloga. “A partir do momento que o pai tira os olhos do filho e volta para a tela, o filho desaparece, e a relação é cortada”, observa.
Comprometimento
Ou seja, precisamos nos esforçar mais e ser exemplo em casa, até mesmo para que as crianças possam também compreender quais são os valores da família. “É conversa e atitude. O filho deve saber no que a sua família acredita, o que pensa sobre a vida, dinheiro, trabalho, espiritualidade e isso é função do pai, da mãe, dos avós, não é da escola”, afirma a psicóloga.O compromisso com a educação das crianças, por exemplo, começa na hora de escolher uma escola que tenha valores similares e que leve em consideração as questões socioemocionais dos alunos. “As famílias devem se fazer presentes na vida escolar do seu filho, conhecer os professores, saber quem são seus colegas e estar atentos a coisas simples, mas muito importantes, que às vezes não são feitas, como olhar a agenda diariamente, que é um importante canal de comunicação”, sugere.
Um erro comum, motivado muitas vezes pela culpa da ausência, é fazer tudo pelos filhos. Fabíola reforça que o ideal é ensiná-los e estimulá-los a fazer, para que aprendam sobre responsabilidade. “Tem que incluir, ensinar a criança a ajudar, definir quais são as suas tarefas, pesquisar o que ela já pode fazer em determinada idade. Com quatro e cinco anos, por exemplo, ela já pode arrumar sua cama, molhar as plantas, entre outras atividades. Você vai ver que isso pode render momentos mágicos em família”, sugere Fabíola.
E diante desse cenário, quais são as alternativas? Compartilhar momentos, dentro das nossas limitações! “Os pais não são perfeitos, até isso é importante que os filhos entendam. Busque sempre reforçar os vínculos e criar memórias afetivas”, declara.
Confira 10 dicas da psicóloga para reforçar vínculos e criar memórias com seu filho:
- Reorganize a rotina, com horários bem-definidos.
- Defina alguma tarefa que seja de responsabilidade da criança.
- Acompanhe a vida escolar do filho.
- Brinquem e joguem juntos. “As crianças amam jogos de tabuleiro e é uma forma de transmitir valores, pois assim como as pessoas se comportam no jogo, se comportam na vida”, reafirma. “Pode ser jogos tecnológicos também, mas é preciso conhecer e jogar junto, para participar do universo do filho”, comenta a psicóloga.
- Faça ao menos uma refeição em família no dia, sem a interferência de TV e outros eletrônicos.
- Assista a filmes junto com seu filho e depois proponha reflexões sobre a história.
- Leia para o seu filho.
- Conte histórias da sua infância, peça para os avós e outros parentes contarem também.
- Faça passeios ao ar livre. “Principalmente para quem mora em apartamento, é fundamental sair para a rua, ir a parques, andar de bicicleta, se movimentar”, complementa a profissional.
- Proponha atividades diferentes! “Seja criativo, tem várias ideias interessantes que podemos adotar, como contar qual foi a melhor e a pior coisa que aconteceram no dia; ter uma caixinha do tédio, com listas de atividades para fazerem em família nesses momentos; escrever cartinhas da gratidão com mensagens para abrir no final do ano; pote da calma para retomar o seu equilíbrio emocional”, sugere.
Fabíola reforça ainda que “hoje temos muita tecnologia e pouco olhar. Falta respeitar a subjetividades das crianças. Elas têm muitas informações, são superinteligentes e desenvolvidas cognitivamente, mas muito inferiormente desenvolvidas em questões emocionais e espirituais. Eles estão muito frágeis, e na hora de enfrentar os desafios não têm resistência emocional, porque ninguém falou sobre isso. Nós adultos, queremos evitar o sofrimento, a dor, a frustração o tempo todo para acalmar a culpa. Nisso, vem a falha em não perceber a alma da pessoa. A tecnologia tem tudo, mas não tem alma. Ela é fundamental para o desenvolvimento da vida nos tempos atuais, mas é preciso ter equilíbrio”, finaliza a profissional.
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