Nutrição, conexão e memória: a importância da alimentação equilibrada na infância


24/05/2019 - Atualizado em 24/05/2019 - 843 visualizações

A hora da refeição é um momento único, de interação com todos da casa, que reforça os vínculos afetivos, fortalece a identidade familiar e educa para uma boa alimentação. Nossos avós consideravam este momento “sagrado” e eles estavam certos.

Pare um instante e lembre como eram as refeições na sua casa durante a infância, no dia a dia ou no final de semana, em dias normais ou de festa. Sinta os aromas, o gosto dos temperos, a textura dos alimentos, recorde as conversas, a bagunça boa, as lições de vida, de aprender a esperar, dividir e compartilhar. Quantas memórias são despertadas, não é mesmo? Se conseguirmos retomar esse hábito, será mais fácil oferecer uma nutrição equilibrada aos nossos filhos, colaborando ainda mais para seu desenvolvimento saudável.

Hoje, para a maioria das famílias, é um desafio conseguir sentar à mesa com seus filhos pelo menos nas três principais refeições - café da manhã, almoço e jantar. No entanto, segundo a nutricionista do Sesc Prainha, Silvânia Fuhr, pós-graduada em nutrição aplicada à gastronomia, para uma educação alimentar adequada é indispensável uma rotina com horários definidos para as refeições e a presença dos familiares à mesa.

“As crianças se influenciam pelas pessoas que estão ao seu redor e pelo ambiente familiar, por isso é necessário que os pais tenham uma alimentação saudável, para que os pequenos adquiram o mesmo costume”, afirma. De acordo com Silvânia, é muito difícil a criança ter bons hábitos alimentares se as pessoas com quem convive não os têm.

“A família é responsável pela formação do comportamento alimentar e deve dar o exemplo através de escolhas adequadas”, considera.

Além disso, a hora da refeição é um momento de dividir o tempo e atenção com pessoas que queremos bem. Por isso, os alimentos têm um importante papel na convivência familiar, pois representa ainda o compartilhamento de prazeres e de emoções. Se não cultivarmos estes hábitos, perdemos também uma oportunidade de estar presente por completo em família.

Referência mundial em boas práticas de saúde, o Guia Alimentar Para a população Brasileira, do Ministério da Saúde, ressalta a importância dos momentos em família à mesa: “Refeições compartilhadas feitas no ambiente da casa são momentos preciosos para cultivar e fortalecer laços entre pessoas que se gostam. Para os casais, é um momento de encontro para saber um do outro, para trocar opiniões sobre assuntos familiares e para planejar o futuro. Para as crianças e adolescentes, são excelentes oportunidades para que adquiram bons hábitos e valorizem a importância de refeições regulares e feitas em ambientes apropriados. Para todas as idades, propiciam o importante exercício da convivência e da partilha”.
Fonte: Ministério da Saúde

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Primeiros anos de vida

São nos primeiros anos de vida que os hábitos alimentares, preferências e aversões, são desenvolvidos e na grande maioria das vezes refletidos na vida adulta. “Precisamos ter paciência no período de introdução alimentar, para que aos poucos a criança conheça cada sabor. Quando ela não aceitar no primeiro contato, não devemos insistir. O ideal é tentar novamente em outro dia. Como o bebê está desenvolvendo o paladar, é necessário oferecer cada alimento por pelo menos cinco vezes. Introduza outros alimentos que tenham os nutrientes similares, como por exemplo, em substituição ao não consumo de feijão, introduza maior quantidade de vegetais verdes e carne vermelha”, orienta Silvânia.

Segundo a nutricionista, após os quatro anos de idade muitas crianças tendem a se tornar mais seletivas e rejeitam alguns alimentos. “Mesmo assim, a família deve continuar incentivando o consumo e oferecendo a comida saudável, pois a alimentação oriunda da infância e adolescência geralmente tende a ser a mesma que a pessoa levará para a vida adulta”, reforça.

Além disso, a obesidade na adolescência vem crescendo, por isso a importância do cuidado com a alimentação em todas as fases. “Uma solução é inovar nas formas de preparação para que não ocorra o ‘enjoo’ por alguns alimentos. Podemos variar as misturas de frutas nos sucos e vitaminas, fazer o hambúrguer caseiro sem adição de produtos químicos, utilizar massas com ingredientes integrais, entre outros”, sugere a nutricionista.

Diversidade alimentar

Para a especialista, uma alimentação equilibrada é baseada na diversidade alimentar para que o aporte de vitaminas e minerais seja atingido. Isso acontece através do consumo diário de frutas e verduras variadas, de fontes de proteínas (carne, leite, ovo, iogurte, leguminosas), carboidratos (de preferência os cereais integrais e tubérculos) e boas fontes de gordura (peixes, linhaça, abacate, oleaginosas).

Segundo ela, na infância devem-se evitar principalmente os embutidos, alimentos ricos em açúcares refinados, tais como o açúcar branco, refrigerantes, sucos industrializados, achocolatado e biscoitos, e alimentos com alto teor de sódio, pois não agregam nenhum benefício nutricional e por muitas vezes geram hábitos inadequados com o passar tempo e levar a patologias. A orientação é evitar os alimentos processados e refinados principalmente até os três anos da criança.

Comida de verdade

Cada vez mais, é necessário resgatar e introduzir na alimentação da família a comida de verdade. Ou seja, alimentos "in natura", coloridos e frescos, que oferecem uma gama de nutrientes, vitaminas e minerais importantes para a saúde humana. “Estamos falando de alimentos que tenham sido minimamente processados, oriundos da natureza, sem passar por processos de industrialização, sem uso de aditivos químicos, tais como saborizantes, conservantes, acidulantes, entre outros”, explica Silvânia.

Para que esta comida de verdade seja ofertada, precisamos cozinhar mais, saber sobre os ingredientes que estão sendo utilizados e o real sabor de cada alimento. “São nestes alimentos provenientes da natureza que estão presentes todas as propriedades nutricionais que vão trazer uma alimentação adequada e nutritiva para as crianças, de forma que tenham um crescimento e desenvolvimento apropriado”, finaliza. 

Em 2018, a Unicef publicou uma cartilha para auxiliar pais, familiares e profissionais nessa missão de promover a alimentação saudável entre crianças e adolescentes. A cartilha traz quatro regras simples para uma alimentação saudável. São elas:
1. Faça de alimentos in natura ou minimamente processados a base de sua alimentação.
2. Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos, e ao criar preparações culinárias.
3. Limite o consumo de alimentos processados a pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias, ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados.
4. Fuja dos alimentos ultraprocessados.
Fonte: Comer Bem e Melhor – Dicas para promover alimentação saudável entre crianças e adolescentes

Clique aqui para acessar a Cartilha

Para que a alimentação da criança seja equilibrada, nutritiva e saudável, feita de forma natural e com prazer, é preciso ter persistência, paciência, força de vontade e criatividade. Confira abaixo algumas dicas da nutricionista Silvânia Fuhr para os pais incentivarem seus filhos a comer bem e compartilharem bons momentos à mesa com suas pessoas preferidas:

- Criar uma rotina para que os horários das refeições sejam estabelecidos;

- Realizar as refeições em família;

- Criar um ambiente para fazer as refeições que seja alegre, convidativo, aconchegante e tranquilo;

- Manter os eletrônicos longe da mesa durante as refeições, pois o mesmo deve ser um momento para aproveitar em família, para dialogar, esperar, comer, sentir o gosto, aroma e textura dos alimentos ofertados;

- Ofertar uma alimentação de qualidade, colorida, rica em comida de verdade, não industrializada, sem excesso de açúcar refinado, sal, farinhas brancas e componentes químicos;

- Ser um exemplo para as crianças;

- Convidar as crianças a participar do preparo da comida, pois este contato direto com os alimentos cria a curiosidade e por muitas vezes faz com que as crianças provem e gostem mais dos alimentos, por eles terem realizado o preparo;

- Reinventar receitas e formas diferentes de apresentar o mesmo alimento também contribuem para uma evolução na alimentação infantil;

-Utilizar o lúdico, inventando cardápios variados e pratos divertidos, como por exemplo montar o alimento no prato na forma de um rosto;

- Levar as crianças à feira ou supermercado, transformando a oportunidade em uma aula divertida sobre a origem de cada alimento. Fazer com que ela conheça cada alimento na sua forma in natura, como é o caso das frutas que podem ser ingeridas com a casca.

- Favorecer o contato com a natureza, manuseio de alimentos na horta para que conheça a origem do alimento até a sua mesa.

Acompanhe a série "Educação Afetiva":



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