Por uma infância conectada à natureza: Criança que brinca ao ar livre é mais ativa e feliz


19/06/2019 - Atualizado em 10/07/2019 - 4723 visualizações

Em um passado não muito distante, o quintal de casa era um mundo repleto de possibilidades para as crianças. A geração atual de pais e mães, em sua maioria, teve a oportunidade de correr livremente pelo pátio durante a infância, explorar os espaços externos, brincar com areia, barro, água e grama, subir em árvores e andar de bicicleta pelo bairro. Você já pensou em quantas habilidades foram desenvolvidas e quantos lições de vida aprendeu nesses momentos? E o que nossos filhos estão perdendo por não vivenciarem essas experiências no dia a dia?

A conexão com a natureza traz muitos benefícios para a saúde e colabora para o desenvolvimento integral da criança: intelectual, emocional, social e físico. Pesquisas mostram ainda que esse contato pode reduzir significativamente os sintomas de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, do estresse e até a ocorrência de condições como miopia e obesidade infantil.

“Crianças que brincam ao ar livre são mais saudáveis, ativas, criativas, autônomas e felizes. Também se tornam mais dispostas a assumir riscos, podendo se tornar adultos mais resilientes”, destaca a educadora física Verônica Meira, professora da Escola Sesc Palhoça. Segundo a profissional, a interação com a natureza possibilita à criança explorar e descobrir muito mais o mundo a sua volta, de diferentes formas e com mais qualidade de vida, contribuindo para a construção da sua identidade e autoconhecimento.

“Essa vivência estimula o potencial humano e criativo, pois a criança passa a se reconhecer como parte desses espaços naturais, constituindo elos de afetividade. Em contrapartida, o distanciamento da natureza pode limitar sua atuação no mundo, pois deixa de desenvolver habilidades fundamentais para o seu desenvolvimento”, observa Verônica.

O que vemos hoje, principalmente em capitais e grandes centros urbanos, é uma infância sem liberdade, em que as crianças vivem rodeadas de prédios, carros, asfalto, restritas a playgrounds de condomínios e que preferem jogos online e videogame às atividades ao ar livre. Com as diversas opções tecnológicas de lazer e a redução de áreas verdes nas cidades, o distanciamento das crianças da natureza se torna uma realidade cada vez mais preocupante.

Para o bem-estar de nossos filhos precisamos recuperar as brincadeiras infantis nas ruas e estimular o contato deles com a natureza. “Levar as crianças para realizar atividades em espaços abertos é uma maneira de oferecer a elas diferentes formas de interagir com o próprio corpo, com a família e com o ambiente ao redor. As brincadeiras ao ar livre ajudam a gastar energia e estimulam os sentidos humanos, pois a criança aprende a reconhecer diferentes texturas, cheiros e sensações. Também oportunizam momentos de interação com a família, amigos e outros a sua volta, favorecendo as relações sociais”, salienta Verônica.

Brincadeiras que tornam a vida ativa

Além de diversão, brincar proporciona aprendizado e movimento. Ao andar, correr, pular e saltar, as crianças desenvolvem a motricidade e compreendem mais sobre o mundo ao seu redor e sobre si mesmas, testando suas limitações e possibilidades. “Ao brincar, os pequenos se exercitam e adquirem diversas habilidades, como equilíbrio, coordenação motora, organização espacial e ampliam as noções de força, tamanho, distância, velocidade e altura. Através das interações com adultos, com outras crianças, com animais, objetos e seu próprio corpo, ampliam a percepção sobre o outro. Neste movimento a consciência se forma na relação da criança com o mundo que a cerca”, considera a educadora.

Segundo ela, as possibilidades de brincadeiras que evitam o sedentarismo são inúmeras. Atividades que envolvem corrida, como pega-pega e esconde-esconde, beneficiam a rapidez e a promoção de técnicas de fuga, captura e retomada, explorando ainda mais os ambientes externos. Brincar com peteca, pipa ou bola, possibilita explorar movimentos diversos, como arremesso e chute um para o outro. O repertório pode ser ampliado com as brincadeiras tradicionais, como pular corda, elástico, amarelinha e cirandas.

“Como essas brincadeiras costumam exigir mais esforço físico, levam as crianças a se movimentar mais, ajudando a prevenir a obesidade infantil. Também fortalecem o sistema imunológico, favorecem nos ganhos corporais, melhoram o sono, previnem a ansiedade, desenvolvem a atenção e a concentração”, informa.

As crianças também podem criar seus próprios brinquedos com materiais naturais, explorados de diversas formas e transformados naquilo que a brincadeira das crianças quiser. “Brincadeiras a partir da terra, da areia, da água ou do ar, como as famosas bolinhas de sabão propiciam o exercício da imaginação e da criatividade. Galhos coletados numa caminhada no parque podem virar espadas ou varinhas de condão, folhas viram barquinhos e flores podem virar uma coroa na cabeça”, indica.

Consciência sobre questões ligadas ao meio ambiente

Vale destacar que crianças que brincam na natureza têm mais consciência sobre o valor da vida. “Ao oportunizar um maior convívio, facilitando o contato da criança com o campo, montanhas, rios e tudo o que a engloba, você enriquece suas vivências, estimulando-a a valorizar os espaços, a apreciar o mundo natural, com respeito e sentimento de pertencimento”, reforça Verônica.

A relação com a natureza precisa ser desenvolvida desde cedo, para criar este vínculo, reconhecendo-a como parte de sua vida. É essencial fazer com que a criança tenha interesse pelo meio ambiente, tanto no cuidado, como também nas suas responsabilidades em questões relacionadas à preservação, como reciclagem, desperdício, água, animais, plantas, solo e o ar.

Motivos não faltam para ir para a rua brincar! Invista o seu tempo enquanto pai e mãe nestes momentos repletos de vivências dinâmicas, sensoriais e lúdicas em meio à natureza. Se não tem um quintal, procure outras alternativas. Leve o seu filho a parques, praças, viaje para o campo sempre que possível. Aproveite para se divertir junto, pois é muito melhor compartilhar as brincadeiras em família. Vale a pena!

A publicação, elaborada pelo Grupo de Trabalho em Saúde e Natureza – parceria do programa Criança e Natureza com a Sociedade Brasileira de Pediatria, visa a orientar e inspirar famílias, pediatras e educadores a respeito da importância do convívio de crianças e adolescente em meio à natureza para a saúde e bem-estar.

https://criancaenatureza.org.br/nossas-acoes/nossas-publicacoes/

Acompanhe a série "Educação Afetiva":



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