Educar nunca foi tão desafiador como está sendo neste momento. A pandemia do coronavírus mudou e transformou hábitos ao redor do mundo e afetou profundamente as formas de ensinar.
De uma hora para a outra, as aulas presenciais foram interrompidas, como medida para conter a propagação da Covid-19, e precisaram ser substituídas pelo ensino a distância. E os desafios dessa transição temporária são imensos.
Para garantir a continuidade do processo educacional de forma efetiva e com qualidade, a Rede de Escolas Sesc não só se adaptou à nova realidade como se reinventou e ressignificou. Isso tudo, sem deixar de lado a proposta pedagógica, os documentos norteadores do trabalho escolar e a educação afetiva, tendo como base de sustentação o desenvolvimento integral dos alunos.
“A mudança partiu das necessidades do trabalho, mas a guinada foi tão grande que a transformação interna também precisou acontecer. Tivemos que criar nova forma de trabalhar. Começamos pela mudança de local: da escola para casa. Também tivemos que nos entender com vários recursos digitais para conseguimos nos comunicar”, conta Fernanda Mello de Moura, analista de Programação Social do Sesc-SC na área de Educação.
Foram muitas reflexões e questionamentos, e em pouco tempo a Instituição criou um formato de ensino remoto, com aulas conduzidas através de recursos tecnológicos e plataformas digitais de educação. Para isso, capacitou os professores e adaptou o planejamento, sempre pensando nas necessidades dos alunos e nas diferentes realidades que as famílias enfrentam.
Passados dois meses desde o início do período de isolamento social, e mais de 45 dias de aulas on-line nas Escolas do Sesc-SC, podemos traçar um panorama de todo o trabalho realizado para atingir todos os alunos a distância, sem perder o vínculo afetivo e a aprendizagem efetiva. “Desafios foram aparecendo e fomos encontrando soluções, nos renovando diariamente. Ajudando uns aos outros, trocamos muito e, surpreendentemente, nos aproximamos ainda mais”, salienta a analista.
Inicialmente, o vírus afastou alunos e professores, mas em seguida uniu ainda mais a escola e as famílias em torno do ensinar e aprender. A parceria e participação dos pais e responsáveis foram primordiais nesse processo de ensino a distância. Todos se tornaram aprendizes ao mesmo tempo, vivendo essa situação que nunca poderíamos imaginar que passaríamos.
Para a gestora escolar da Escola Sesc Palhoça, Fernanda da Rosa Braga, cada retorno recebido das atividades, cada palavra e gesto de carinho que vem dos alunos e dos responsáveis, enche de orgulho, felicidade e esperança. “Contudo, sabemos que cada família está vivenciando uma realidade diferente, conseguindo auxiliar nas atividades da criança de acordo com o seu tempo, pois precisam conciliar o trabalho, o acompanhamento dos estudos e o cuidado de seus filhos e da casa. Por isso, a escola está diariamente a disposição na tentativa de sanar todas as dúvidas, angústias e sugestões”, reforça.
Eliomara Rodrigues das Neves, gestora escolar da Escola Sesc Brusque acredita que o ensino no formato remoto lançou a Escola Sesc em caminhos desconhecidos, mas com o exercício da pesquisa, do estudo, da prática a todas ferramentas e técnicas em mãos, o processo de ensino-aprendizagem ganhou um novo significado. “Através de vídeos, jogos, leituras, exercícios, rodas de conversa on-line, atendimento em grandes e pequenos grupos, todos pensados e preparados com fins pedagógicos muito claros, a beleza do conhecimento ressurgiu entre nós. E o maravilhoso barulho do pensar e falar ao mesmo tempo, que é marca implacável em qualquer aprendiz, está de volta, nas salas de estudo on-line entre alunos, professores e familiares”.
Para ela, o sucesso desse processo, não substitui o ensino presencial, mas mostra que o conhecimento rompe qualquer fronteira. “Como sociointeracionistas que somos, acreditamos que o conhecimento brota da troca e por isso continuamos (gestores, professores, alunos e familiares) diariamente envolvidos, ou melhor, conectados”.
Para aprofundar mais sobre como se deu esse processo, convidamos as três educadoras do Sesc-SC que participam dessa matéria para relatarem toda essa experiência vivida. Compartilhamos abaixo os depoimentos da Fernanda Mello de Moura, analista de Programação Social do Departamento Regional do Sesc, na área de Educação, da Eliomara Rodrigues das Neves, gestora escolar da Escola Sesc Brusque; e da Fernanda da Rosa Braga, gestora escolar da Escola Sesc Palhoça.
Antes da leitura, convidamos você a assistir ao vídeo curto que produzimos com uma reflexão sobre a Educação neste momento.
E se você quer viver essa experiência conosco, a Rede de Escolas Sesc Santa Catarina conta com Educação Infantil Bilíngue (Creche e Pré-Escola) em 23 Unidades, Ensino Fundamental em 15, Educação de Jovens e Adultos (EJA) em 4 cidades e Projeto Habilidades de Estudo (contraturno escolar) em 18 unidades. A Instituição oferece também Ensino Médio Técnico em Programação de Jogos Digitais em conjunto com o Senac, em Palhoça.
Depoimentos das educadoras do Sesc-SC:
Eliomara Rodrigues das Neves
O que dizer deste cenário on-line para a educação? Tão delicado, tão inseguro, confuso, mas por outro lado, tão forte, resiliente e significativo. É de uma completa ambiguidade tudo que estamos sentindo e vivendo. Falar de cenário remete a um contexto, um formato, um pano de fundo, que por si só não define a performance que será exposta, precede, mas não define.Pensando nisso, nosso cenário ficou definido como online. Mas e a performance? Qual seria? Passamos então, a listar inúmeras perguntas, sobre a nossa vontade de acertar e a divergência com o novo caminho: TECNOLOGIA EM 100%, esse era o conflito, não o uso, mas a sua frequência em totalidade.
As descobertas sobre como ressignificar a escola, essa nova perspectiva no tempo e no espaço da aprendizagem, que modifica toda a dinâmica do que costumávamos chamar de aula, trazendo a dúvida: será que continua sendo aula?
Num primeiro momento a sensação foi de que a ordem de fechamento dos espaços de ensino, para zelar pela saúde de todos, nos separou, distanciou, gerou uma lacuna na relação escola – alunos e antagonizou a relação escola - família, mas, passado o primeiro susto agora é possível pensar: Onde está a escola? Nas paredes frias e vazias dos espaços “abandonados”? No silêncio que grita nos corredores, refeitórios, áreas de convivência? A escola é um espaço físico apenas?
O silêncio refinou nossa audição e dentro de todos nós envolvidos nesse processo há uma resposta: Não! A escola não está vazia, porque antes de tudo a escola é imaterial! Ela é uma ideia sobre o valor do conhecimento e hoje está com seus limites ampliados e sustentados por fios invisíveis que tornam a comunicação possível: parte desses fios construídos pela tecnologia, e outra parte e que significativa parte, pela força do apoio das famílias, a quem, externamos uma imensa gratidão.
Convergindo a tudo isso, nossos alunos são da geração digital, com esquemas mentais sobre esse assunto muito além dos nossos, por isso a dificuldade foi nossa e não deles, conseguem aprender digitalmente desde sempre.
O ensino, no formato remoto, nos lançou em caminhos inicialmente desconhecidos e que aparentemente eram frágeis e inexpressíveis, mas com o exercício da pesquisa, do estudo, da prática a todas ferramentas e técnicas que tínhamos em mãos, a beleza do aprendizado brotou, em nós educadores, e está se refletindo a cada dia em nossos alunos.
Através de vídeos, jogos, leituras, exercícios, rodas de conversa on-line, atendimento em grandes e pequenos grupos, todos pensados e preparados com fins pedagógicos muito claros, a beleza do conhecimento ressurgiu entre nós! E o maravilhoso barulho do pensar e falar ao mesmo tempo, que é marca implacável em qualquer aprendiz, está de volta, nas salas de estudo on-line entre alunos, professores e familiares.
O acúmulo de perguntas geradas pela insegurança do desconhecido se diluiu, dando espaço à criatividade, dinamismo, extraindo das ferramentas on-line, inúmeras possibilidades de provocar e assegurar o aprendizado. Todo educador tem uma clara habilidade para elucidar pedagogicamente o seu trabalho, isso traz a segurança de que os formatos mudam, mas a convicção do fazer não.
O sucesso desse processo, não substitui o ensino presencial e isso é indiscutível, pelo menos no momento, mas, aprendemos que o conhecimento rompe qualquer fronteira, além de romper, se organiza, legitima, autentica e fortalece. Como sociointeracionistas que somos, acreditamos que o conhecimento brota da troca e por isso continuamos (gestores, professores, alunos e familiares) diariamente envolvidos, ou melhor, conectados.
Fernanda da Rosa Braga
Queridas crianças e seus familiares;De repente sem ao menos nos despedirmos, foi preciso nos afastar.
Ficamos tristes com a situação.
Porém, agora entendemos o motivo da distância.
Temos que nos cuidar! Pra não deixar esse vírus se espalhar.
Esperamos que todos estejam bem! Cuidando da sua saúde e lavando bem as mãos.
Estamos com saudades!
Por aqui nossos pensamentos estão em vocês.
Logo tudo vai passar e estaremos juntos novamente.
Aproveitem esse tempo com a sua família.
Contem boas histórias e cantem boas músicas juntos.
Criem memórias que ficarão para sempre em vocês.
Mas, não deixem de pensar em nós.
Abraços e até breve! Equipe Educação!”
E foi assim que demos as boas-vindas ao ensino remoto, tentando aos poucos iniciarmos o contato virtual com nossos alunos e seus familiares.
A Educação tem uma função indispensável na vida das pessoas, o processo de ensino e de aprendizagem desenvolve e potencializa a formação humana e a capacidade intelectual do indivíduo. A sala de aula é um ambiente que propicia uma forte conexão entre os pares, onde a troca de experiências e afetividade contribui para o desenvolvimento dos mesmos. E agora, sem essa interação vivenciada na sala de aula, como dar continuidade a aprendizagem por meio do ensino remoto?
Na Escola Sesc de Palhoça iniciamos com o ensino a distância no dia 03 de abril de 2020, até os dias atuais. Desde o início do decreto referente ao isolamento social, a equipe de Educação do Departamento Regional juntamente com a equipe pedagógica da escola vem trabalhando incansavelmente para que consigamos atingir todos os alunos, no intuito de não perder o vínculo afetivo e a aprendizagem efetiva.
A conexão dos professores e coordenação pedagógica com os alunos e seus respectivos responsáveis está sendo via plataformas digitais: Teams, Scules, Educacross, Khan Academy e para os alunos sem acesso à internet disponibilizamos as atividades impressas que são retiradas na secretaria da escola.
Confesso que está sendo sim, um grande desafio! Estamos a cada novo dia aproveitando uma nova oportunidade, na tentativa de aperfeiçoar cada vez mais o nosso trabalho e buscando nos familiarizar dia após dia com essa mudança repentina da rotina educacional.
Os professores estão empenhados nas construções e adaptações dos planejamentos, buscando a melhor forma de conduzir as aulas com novas experiências de formato, flexibilizando os prazos de entregas das atividades, auxiliando os alunos nas atividades e respeitando aqueles que têm maior dificuldade com o acesso à internet e estrutura tecnológica.
A parceria e participação das famílias estão sendo primordial nesse processo de ensino a distância. Cada retorno que recebemos das atividades, cada palavra e gesto de carinho que vem dos alunos e dos responsáveis nos enchem de orgulho, felicidade e esperança.
Contudo, sabemos que cada família/aluno está vivenciando uma realidade diferente, conseguindo auxiliar nas atividades de seu filho (a) de acordo com o seu tempo, pois precisam conciliar o trabalho, o acompanhamento dos estudos e o cuidado de seus filhos e da casa. Por isso, a escola está diariamente a disposição na tentativa de sanar todas as dúvidas, angústias e sugestões.
Diante da situação na qual estamos passando em razão da pandemia, o maior conforto é saber que estamos nos dedicando ao máximo para não deixar estagnar a Educação dos alunos. E que mesmo com o distanciamento, buscamos cumprir com nosso compromisso de entregar aprendizagem e com nossa missão de fazer a diferença na vida de cada indivíduo que está sob nossa responsabilidade.
Fernanda Mello de Moura
Uma palavra que resume bem esse período foi desafio. Fomos impelidos a nos reinventar. A mudança partiu das necessidades do trabalho, mas a guinada foi tão grande que a transformação interna também precisou acontecer.Tivemos que criar nova forma de trabalhar. Começamos pela mudança de local: da escola para casa. Também tivemos que nos entender com vários recursos digitais para conseguimos nos comunicar.
Depois, partimos para a organização das aulas a distância. Precisávamos levar em consideração diversos aspectos que não eram usuais em nosso trabalho: planejar direcionado para o ambiente doméstico, com poucos recursos e com adultos, que teriam que intermediar as aulas, mas que não eram professores.
Por outro, lado, também não poderíamos deixar de lado a nossa Proposta Pedagógica, nem os documentos norteadores do trabalho escolar e muito menos a educação afetiva que tanto prezamos. Eles são os fundamentos para atingirmos nosso principal objetivo: o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo dos alunos.
Depois de muita reflexão e questionamentos, conversamos e debatemos sobre essa nova perspectiva de se relacionar. E em pouco tempo, criamos um formato de ensino a distância. Adaptamos o planejamento, pensando nas necessidades dos alunos, mas também nas diferentes realidades que as famílias enfrentam.
Então iniciamos as capacitações da equipe da Educação para reestruturar o trabalho pedagógico por meio de um novo jeito de dar aulas: virtualmente. Os treinamentos tiveram como foco as plataformas digitais e o ensino a distância.
Finalmente era hora de começar a colocar em prática tudo o que foi idealizado. Nesse momento, a comunicação foi incessante para que todos recebessem as orientações. Fizemos reuniões, enviamos mensagens, escrevemos comunicados para esclarecer e alinhar nosso trabalho.
Na Educação Infantil, usamos a plataforma Teams. No Ensino Fundamental, o Scules, Binóculo, Educacross e Khan Academy. E para os alunos sem acesso à internet, nos comunicamos por telefone e disponibilizamos o material físico para que pudessem retirar nas unidades.
Desafios foram aparecendo e fomos encontrando soluções, nos renovando diariamente. Ajudando uns aos outros, trocamos muito e, surpreendentemente, nos aproximamos como nunca tinha acontecido. E quando os professores começaram a receber o retorno com as atividades pudemos enxergar o resultado de tudo o que havíamos planejado. Fotos, vídeos, tarefas, pesquisas, jogos, encontros virtuais, dúvidas. A partir desse ponto, fomos reinventando uma forma de manter o vínculo acesso entre alunos, pais, professores e coordenadores e aprendendo a viver uma situação que nunca poderíamos imaginar que passaríamos.
Mesmo com as escolas fechadas, trabalhamos intensamente e sem parar para continuarmos a oferecer um ensino de qualidade, tendo como base de sustentação o desenvolvimento integral dos nossos alunos. Esperamos que essa fase passe rápido para podermos nos reencontrar e reviver uma das características mais importantes da escola: aprender através da convivência social.