Jogar, correr, dançar, nadar, saltar, pedalar, patinar, brincar de pega-pega, pular corda e amarelinha! Movimentar faz muito bem para a saúde de nossos filhos, e atua diretamente no desenvolvimento motor, cognitivo, social e emocional. No entanto, se antes brincadeiras e jogos que envolviam o corpo eram comuns no dia a dia dos pequenos, atualmente brincar, para muitas crianças, significa jogar videogame ou passar horas na frente da televisão, celular e do computador.
Com a evolução da tecnologia, é muito comum crianças e adolescentes substituírem atividades que demandam gasto energético pelas brincadeiras automatizadas. Como resultado, o bem-estar físico e emocional ficam comprometidos, já que o sedentarismo está ligado ao aumento dos casos de obesidade, que causam diversos problemas à saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% dos adolescentes do mundo não praticam atividade física na frequência e quantidade recomendada para a faixa etária. Além disso, quatro em cada cinco jovens de 11 a 17 anos são considerados insuficientemente ativos.
Há muito tempo se fala sobre a importância da atividade física. Os benefícios são inúmeros, como a redução do risco de doenças cardíacas, o fortalecimento do sistema imunológico, a redução de gordura corporal, aumento da massa muscular, aumento da disposição, entre outros. Porém, ultimamente tem-se chamado atenção também para os benefícios psíquicos, como melhora da autoestima, socialização e combate à depressão.
“A atividade física na infância tem um papel essencial para o desenvolvimento, estimula a força, o equilíbrio, a coordenação, a agilidade e a flexibilidade. Esses movimentos expressam emoções, ampliam o domínio e a linguagem corporal, além de desenvolver a capacidade afetiva e intelectual”, salienta a educadora física Júlia Albino Sardá, analista de programação social da área de Lazer do Sesc/SC. Segundo ela, o movimento humano otimiza os sistemas fisiológicos, o que consequentemente melhora a saúde como um todo.
Para garantir um futuro ativo, precisamos incentivar nossos filhos a praticarem atividade física regular desde cedo, trazer de volta o brincar ou seja, transformar o tempo de sedentarismo em tempo de movimento e ludicidade. Atualmente, a OMS recomenda que crianças e adolescentes de 5 a 17 anos pratiquem pelo menos 60 minutos diários de atividade física moderada a intensa.
Quando começar a fazer atividade física?
Incentivar a prática de atividades físicas na infância é fundamental para que o esporte se torne algo prazeroso desde cedo e ajude em um crescimento saudável. Para a educadora física Júlia Sardá, o importante é saber escolher qual atividade é melhor para cada fase. “Até os 6 anos o foco deve ser o desenvolvimento dos padrões motores básicos, coordenação, equilíbrio, lateralidade, noção corporal, através de atividades espontâneas e prazerosas. A partir dessa idade, é importante ampliar o leque motor da criança deixando-a explorar diferentes modalidades através de jogos e brincadeiras, sem especificar um esporte, a atividade precisa ser divertida, se aprende brincando. Após os 10 anos de idade os esportes específicos começam a ganhar espaço”.
E se criança quiser desistir da atividade física que escolheu?
Segundo a educadora física, os pais podem ajudar a evitar desistências reconhecendo as potencialidades da criança, para que seja escolhida uma modalidade que ele tenha mais chance de sucesso. “Neste momento, não devemos projetar que a criança será atleta, mas sim que poderá se movimentar e se divertir com mais facilidade”.
Outra dica é perceber quais atividades os amigos do filho fazem, para que tenha um grupo que motive a participar junto. Além disso, é importante ressaltar que o exemplo vem de casa. “A criança aprende com o exemplo. Pais ativos, que brincam e jogam com os filhos, levam ao parque, têm mais chances de despertar o gosto da atividade física nos pequenos”, reforça Júlia.
Educação física escolar e extracurricular
Para muitas crianças, a educação física escolar é o primeiro contato com a atividade física. Segundo Júlia, é a chance de estimular o desenvolvimento motor, a cultura corporal, as possibilidades do corpo e o gosto pelo exercício físico, com programas educacionais desenvolvidos especialmente para cada idade escolar. “É essencial ter um profissional qualificado e que a escola possua materiais adequados para a prática. Uma boa educação física escolar, que seja inclusiva, prazerosa, e que ensine mais do que o esporte, é muito importante para que este aluno crie gosto pelo exercício rumo a uma vida adulta mais saudável”, ressalta a educadora física.
No entanto, mesmo contribuindo significativamente para melhorar a qualidade da saúde, a educação física escolar não é suficiente para alcançar objetivos como o desenvolvimento da capacidade motora, cognitiva, afetiva e social. “O estímulo da família é fundamental para manter as crianças e os adolescentes ativos, assim como a escola assume um papel de destaque na orientação e promoção da atividade física”, salienta Júlia. Os pais devem criar oportunidades e encorajar seus filhos a participarem de uma variedade de atividades físicas agradáveis e seguras que contribuam para o desenvolvimento natural, como caminhadas, andar de bicicleta, praticar esportes diversos como judô, capoeira, futebol, ballet, vôlei, basquete, e se envolver em jogos e brincadeiras tradicionais da comunidade em que estão inseridas.
“São as famílias que dão o acesso inicial às brincadeiras, que apresentam os jogos e são boas influências. Estipular horários, dividindo o tempo de lazer entre atividade física e de tecnologia, é uma boa opção também. Organizar gincanas e brincadeiras de roda, saltar corda, bambolê, amarelinha, pega-pega, entre outras atividades lúdicas é muito útil para combater o sedentarismo”, finaliza a educadora física.
Guias orientam pais e educadores na promoção de uma vida ativa
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) disponibiliza em seu site um guia com orientações para pais e responsáveis com foco no estímulo à prática de atividades físicas por crianças e adolescentes, levando-se em consideração as etapas de crescimento e o desenvolvimento infantojuvenil.
E o Ministério da Cidadania, por sua vez, acaba de publicar a cartilha “Jogos e Brincadeiras das Culturas Populares na Primeira Infância“, que ensina atividades lúdicas para o estímulo do desenvolvimento infantil. A publicação, resultado de parceria com a Unesco e o PNUD, divide-se por faixa etária, do nascimento aos 6 anos, levando em conta as características de cada fase da primeira infância.
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Infância Saudável: Precisamos olhar para nossos filhos
Com o objetivo de trazer conteúdos esclarecedores aos pais, lançamos no Blog Sesc/SC a série “Educação Afetiva”. Nesta primeira matéria, indicamos alguns caminhos para promovermos uma infância feliz e saudável.