Histórias que fazem Sesc: O poder da palavra lida e escrita


13/09/2017 - Atualizado em 13/09/2017 - 621 visualizações


A vida da dona de casa Salete Maria Moreira sempre foi repleta de desafios. Começou cedo a trabalhar na roça para ajudar os pais, imigrantes italianos que viviam na zona rural de Caçador. Junto com os irmãos, seis mulheres e três homens, ajudava no transporte de cestas de milho, abóbora e aipim, tendo de suportar o frio do inverno muitas vezes descalça, com os pés na geada. Cresceu nutrindo o sonho de ir para a cidade estudar, mas isso não era permitido para as mulheres, que tinham de permanecer em casa, na lida do lar. Quando a família enfrentou dificuldades e teve de vender o sítio, Salete passou a trabalhar como empregada doméstica, assim como suas irmãs. Ainda mantinha a vontade de aprender a ler e conhecer melhor o mundo que chegava até ela pelas imagens dos jornais e das revistas, mas a sobrevivência exigia trabalho árduo e o sonho foi ficando cada vez mais distante. Logo veio o casamento e, com ele, três filhos, aos quais ela dedicou atenção integral.


Salete só conseguiu decifrar plenamente os signos de um mundo cada vez mais complexo que a rodeava quando os filhos cresceram e ela decidiu dar vez ao velho sonho. Foi quando matriculou-se no Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sesc Ler em Tijucas e viu sua vida mudar. No Sesc conheceu outras pessoas que viveram trajetórias parecidas com a sua, e também tiveram de adiar o momento de estudar. Conheceu também professoras dedicadas, que não mediam esforços para alfabetizar a turma, através de técnicas divertidas e diversas. Foram três anos de um intenso aprendizado, completados depois com um estudo intensivo que a levou a finalizar o Ensino Fundamental.

Depois da alfabetização, Salete finalmente conseguiu vencer a timidez que a acompanhava em função do receio de ser interpretada como uma pessoa desinformada. Tanto que, no final do curso, ela foi nada menos que a oradora da turma.

Hoje ela já não consegue se ver como aquela pessoa que mal conseguia entender o mundo à sua volta. Agora quer continuar a abrir horizontes, dessa vez prestando vestibular para o curso de gastronomia, na Capital. O filho mais novo, Jeferson, já cursa doutorado em farmacêutica bioquímica, em Paris.

Em recente viagem de retorno ao país, brindou a mãe com um presente especial. Comprou uma série de livros e revistas no aeroporto e presenteou a nova estudante da família, que em breve irá compartilhar com ele os dias de estudo na França. Enquanto a viagem não chega, Salete passa o tempo costurando seus fuxicos, navegando na internet e pesquisando os pontos turísticos da capital francesa, que ela não vê a hora de conhecer.

*Este artigo foi adaptado do livro “Uma história feita de muitas”, publicado em 2016 como parte das comemorações dos 70 anos do Sesc em Santa Catarina. 
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