[Artigo] Saborear lembranças de família, degustar valores culturais, apreciar história e manter a saúde


14/02/2020 - Atualizado em 14/02/2020 - 1077 visualizações

A lembrança causada pelos alimentos é a mais forte que temos. Quem nunca viveu a experiência de comer e ser levado de volta a um momento marcante da infância? Pois é, esta situação é bastante comum e recebe o nome de memória gustativa. Segundo especialistas, ela é a mais poderosa sensação de nosso corpo e nos conduz aos momentos de "saudosismo alimentar".

Neste artigo, a nutricionista Jéssica da Luz Pereira Pucci, Gerente de Saúde e Assistência do Sesc-SC traz uma visão sobre alimentação saudável, de qualidade, e das lembranças que o Sesc ativa em seus Restaurantes. O resgate da memória afetiva da comida caseira e dos almoços em família. Momentos que têm no prato o melhor tempero de todos – o AMOR. Lembranças afetivas que se despertam quando estamos em um lugar que nos trata com o mesmo carinho, estampado em cada garfado de nossa refeição. Tudo isso em um só lugar, com uma refeição balanceada, variada, segura e de qualidade: nos Restaurantes Sesc Santa Catarina.


Saborear lembranças de família, degustar valores culturais, apreciar história e manter a saúde

“Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida”
- Michael Pollan - 

Quando estabelecemos nossos hábitos alimentares, providenciamos as definições do que se come, onde se come, quando se come, como e com quem se come, levando em consideração não apenas a mera saciedade de uma necessidade fisiológica, mas também o poder das referências culturais e sociais, demarcando desta forma a identidade coletiva e individual do ato de comer.

A cronista Nina Horta uma vez escreveu: “Quem disse que uma receita tem que ser escrita como uma bula de remédio? Comer é o primeiro prazer que conhecemos na infância, e cozinhar é um modo de se amarrar a vida com simplicidade.”

Uma comida que traz felicidade geralmente é aquela que está associada com a infância ou com comida caseira, uma comida simples, consumida em um cenário singular para obtenção de um conforto emocional. É muito habitual escutarmos alguém falar “este alimento me lembra a infância”, lembra o carinho da mãe, da avó e é trazida, quando desejamos nos sentir acolhidos. O cheiro do bolo de banana, do café passado na hora, da carne assada de panela... podem despertar não só o apetite, mas momentos adormecidos que ficarão marcados para o resto da vida.

Existem muitas opiniões sobre o impacto da globalização nos hábitos alimentares e a rapidez destas mudanças em nossa sociedade, principalmente sobre a maneira de se alimentar e o estilo de vida contemporâneo. O ato de comer tem uma ligação intrínseca e direta com os aspectos emocionais do indivíduo e estar inserido em uma sociedade competitiva, acelerada e tecnológica, com menos tempo para cozinhar e preparar os alimentos como se deveria, aumenta de forma significativa o número de pessoas que adoecem devido ao agravamento dos problemas nutricionais.

“Com os alimentos, podemos gerar saúde ou doença”
– Montse Bradford –

A indústria alimentícia e a globalização trouxeram praticidade, palatabilidade e durabilidade que são características cada vez mais valorizadas na escolha dos alimentos e bebidas. Percebe-se uma tendência generalizada de aumento no consumo dos processados e ultraprocessados. Por ser um mercado atraente é mascarada a problemática para a saúde humana, que envolve a baixa qualidade nutricional, com a utilização de elementos gordurosos, açucarados e salgados com o objetivo de causar dependência.

Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2018, sobre o consumo de alimentos processados na América Latina, o Brasil está na 34ª posição da venda per capita de alimentos e bebidas ultraprocessados no ranking mundial. O consumo de produtos tipo snack, fast food e bebidas açucaradas – não balanceados do ponto de vista nutricional – associado a fortes estratégias de marketing da indústria e prática de atividade física insuficiente, são as principais causas para o aumento de peso e de doenças crônicas na população.

O grande obstáculo dos restaurantes e serviços de alimentação é se qualificar às novas direções apontadas para o campo da nutrição, adequando-se a ideia que o gosto alimentar tem suas referências dentro de uma atividade cultural e social da comunidade. Os alimentos apresentam sentidos culturais, comportamentais e afetivos únicos, e a busca do prazer através da alimentação é uma abordagem necessária para promoção da saúde.

A comida tem um elevado poder de conexão entre os seres humanos e manter uma memória coletiva de nossas raízes culinárias é imprescindível para que as recordações se mantenham vivas. Muito deve ser aprimorado nas escolas sobre a relevância das receitas de família e das técnicas culinárias utilizadas no passado. Quando culturas, padrões socioculturais e heranças obtidas de geração para geração são expostas, aproveita-se da memória para contar histórias e realçar os momentos marcantes nas experiências individuais e coletivas, que constituem o curso de aprendizado e composição cultural de uma população, família ou indivíduo.

“Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. 
No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros.”
- Mia Couto -

A relação entre a memória e a comida provoca sentimentos aconchegantes, felicidade, prazer, bem-estar ligado à infância e a construção de nossas histórias de vida. É a nostalgia do consumo, a partir de diferentes perspectivas, que devem ser preservadas através de uma alimentação mais nutritiva, sustentável, confortável e mais caseira, que levam em conta a vida sociocultural e o dia a dia das famílias.

O resgate das memórias da alimentação é um exercício de convivência e sociabilidade, um modo de promover a solidariedade, reforçar laços afetivos e vínculos de amizade. É inegável a relevância socializadora das refeições e a influência sociocultural recebida desde pequenos, quando somos educados como devemos nos alimentar e a escolher o que deve compor ou não a nossa alimentação. Esta aprendizagem na infância influencia diretamente a relação das pessoas com a comida e é fundamental na formação de bons hábitos alimentares, que serão preservados ao longo da vida e contribuirão para a saúde e qualidade de vida do indivíduo.

Jéssica da Luz Pereira Pucci
Nutricionista e Gerente de Saúde e Assistência do Sesc-SC.



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