Dia Mundial da Saúde: Uso excessivo das redes sociais neste período de isolamento social


07/04/2020 - Atualizado em 07/04/2020 - 903 visualizações

Em 7 de abril se comemora o Dia Mundial da Saúde. Talvez essa data nunca tenha sido tão importante no calendário diante do desafio da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). É hora de começarmos a controlar nossa “dieta digital”. Já parou para pensar quanto tempo por dia você está usando seu smartphone e de que forma? Ele auxilia muito nesse período que estamos passando, mas muitas vezes eles “roubam” tempo e são viciantes.

Para refletir mais sobre o assunto leia o artigo da nutricionista e Gerente de Saúde e Assistência do Sesc, Jéssica da Luz Pereira Pucci, que trata sobre o uso excessivo das redes sociais neste período de isolamento social. 

O vício e a dieta digital

Assim como o açúcar, o sal e as gorduras, a utilização inapropriada das redes sociais traz uma série de problemas, sendo necessário saber qual a dose adequada para o seu uso saudável, evitando, assim, que as vantagens não sejam superadas pelo vício que surge com os excessos. De um modo geral, cada vez mais as pessoas estão dependentes da tecnologia, e, em decorrência dessa imersão no mundo digital, apesar de todas as suas vantagens, vários aspectos ligados à saúde do indivíduo, sejam físicos, psicológicos ou sociais, como baixa autoestima, depressão, fobias sociais, solidão, e isolamento podem ser verificados em função do crescimento acelerado do acesso à internet.

Entre os sintomas físicos estão incluídos a taquicardia, a xerostomia (secura da boca), e alguns tremores. A longo prazo, quanto maior a frequência do usuário no universo on-line, em frente ao computador, maiores as possibilidades de desenvolvimento de problemas relacionados à sua saúde, tais como: comprometimento da postura, dores musculares, lesões por esforço repetitivo (tendinite), obesidade – devido à má alimentação, alterações na visão, e também cansaço crônico e insônia devido às madrugadas passadas em claro.

Do lado psíquico, a incapacidade de concentração, a agitação, a angústia por estar longe de um computador, ou celular com acesso à internet, estão entre os problemas mais comumente apresentados. Todos estes sinais e sintomas acarretam outros desdobramentos no cotidiano do usuário compulsivo, em diversas formas, a exemplo de baixo rendimento escolar ou profissional, perda do interesse pelas interações sociais, ao ponto de arriscar a perda de uma relação significativa, quer seja pessoal, profissional ou educacional, e a síndrome amotivacional, o que significa não ter motivação para fazer algo que não seja utilizar a internet.

Uma pesquisa realizada pela Hoopsuite em parceria com a We Are Social, revela que o Brasil é o segundo país do mundo que passa mais tempo conectado à internet. Os dados mostram que o brasileiro fica conectado em média nove horas e vinte nove minutos por dia. A pesquisa, ainda, demonstra que o Brasil está apenas atrás das Filipinas, onde, em média, se passa mais de dez horas por dia conectado à internet.

Uma das pesquisas mais importantes sobre o assunto, coordenada por Kimberly Young em 1996, registrou a participação de 600 usuários com sinais clínicos de dependência. Segundo Kimberly S. Young a temática do uso abusivo de internet é atual e promotora de debate em saúde mental. É controverso definir o uso patológico da Internet pela extensão dos critérios estabelecidos para as dependências de substâncias. Isto porque o uso da internet, ao contrário do uso de substâncias químicas, oferece benefícios diretos nas sociedades não devendo ser encarado como um vício. Young definiu, o uso patológico da internet como uma “perturbação do controle dos impulsos que não envolve uma substância tóxica” (Young, 1996).

As pessoas viciadas em Internet têm pouca capacidade de controlar seus ânimos. Apesar de compreender os danos que a utilização demasiada causa, não conseguem deixar de ficar online, pois o computador torna-se a relação primordial na vida delas. Sentem-se mais encorajadas, encantadoras e cobiçáveis nas relações virtuais, do que quando estão perante a possibilidade de fundar uma nova relação de forma tradicional, podendo até revelar verdades particulares, que poderiam levar meses ou anos para se progredir numa relação “off-line”.

A internet e as redes sociais também oferecem um local ilimitado para a livre movimentação de ideias e opiniões, o que nem sempre redunda em algo positivo, pois também é lugar de notícias falsas (fake news), mentiras políticas, campanhas de ódio, constrangimentos públicos, ataques verbais, preconceitos, assédios e exposições de intimidade que podem causar ao usuário o adoecimento mental, por estar exposto a estas influências negativas. Aqueles que já têm um distúrbio estabelecido, tendem a agravar o seu quadro dentro de um ambiente de exacerbação de sentimentos e ações não-saudáveis.

A calúnia na internet não é publicada apenas por robôs e por sites que alastram falsidades e faturam alto de acordo com a audiência que os assuntos apelativos impulsionam. As próprias pessoas, tomadas por sensações de espanto, estranhamento e apavoramento, também distribuem as “fake news” de forma excessiva, prejudicando sobremaneira a qualidade de vida.

Daniel Sieberg que se intitula como um "ex-viciado" e criador do respeitado livro “The Digital Diet” (Dieta Digital), propõe um programa em quatro etapas para acabar com a dependência tecnológica e encontrar o equilíbrio. A dieta inclui um período de abstinência e o cálculo do "peso digital" de cada pessoa, com base em um índice criado por Sieberg, que leva em conta o número de aparelhos eletrônicos, logins e serviços, como são usados e por quanto tempo.

Os quatro passos da dieta digital:

1) ABSTINÊNCIA TOTAL: Durante um ou dois dias, não usar nenhum tipo de gadget, como smartphone e tablet, ou acessar às redes sociais, para que a dieta digital funcione. Desta forma, pode avaliar como a tecnologia domina o seu cotidiano e qual o impacto que tem nas suas relações sociais.

2) IDENTIFICAÇÃO DOS CANALIZADORES DO VÍCIO: Identificar o número de gadgets, redes sociais e blogues a que costuma acessar (cálculo do Índice de Peso Virtual – Daniel Sieberg faz uma brincadeira com o Índice de Massa Corporal (IMC). Neste caso, o objetivo é calcular o peso que a tecnologia tem na nossa vida, medindo o número de aparelhos, logins e serviços usados e avaliar quais são os realmente necessários.

3) RECONHECENDO OS ERROS: Colocar a mão na consciência e perceber se há relações pessoais, que possam ter sido afetadas de alguma maneira pelo uso da tecnologia. Corrigir o erro.

4) USE SOMENTE O NECESSÁRIO: Incorporar as tecnologias realmente necessárias ou que ajudam a gerir a sua vida, como aplicações que indicam perda de peso, que impedem o envio de mensagens enquanto guia ou que organizam calendário.

Sem dúvida alguma, a internet é um instrumento de trabalho e de lazer que se tornou indispensável no dia a dia das pessoas. Ficar por dentro de notícias, aprender novas atividades, assistir vídeos engraçados, se comunicar com amigos e familiares não é nocivo, desde que façamos com moderação, nas horas adequadas e em momentos de folga. 

Quando a intensidade dos acessos começa a prejudicar a produtividade no trabalho, a harmonia das relações familiares e, quando substituem atividades que antes eram agradáveis, é prudente ficar alerta. A chave para evitar o vício digital, assim como o vício em comida, é essencialmente o consumo equilibrado, onde é necessário retomar os hábitos saudáveis através de um processo psico-educativo. 

Jéssica da Luz Pereira Pucci
Nutricionista e Gerente de Saúde e Assistência do Sesc Santa Catarina




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