Maio Laranja é a campanha de enfrentamento à violência sexual cometida contra crianças e adolescentes no Brasil. O marco é o 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
O abuso sexual é definido como qualquer conduta sexual com uma criança ou adolescente realizada por adultos ou criança mais velha. De acordo com a psicóloga do Sesc, Fabíola Stenhaus Pires, a sexualidade é o principal polo estruturante da personalidade de um indivíduo. "Na infância o centro da sexualidade deve ser o afeto, somente quando começa a puberdade que o erótico sexual vai instalando-se no ser humano. Antecipar essa erotização é danificar a afetividade de uma criança", explica.
O diálogo e a informação ainda são as maneiras mais eficientes de prevenir e identificar situações de abuso. Para auxiliar pais e cuidadores a identificar os sinais e saber como agir na prevenção do abuso infantil, dez Unidades do Sesc no estado vão realizar rodas de conversa com profissionais da área técnica a partir desta quinta-feira (18). Se você mora em Araranguá, Blumenau, Canoinhas, Chapecó, Concórdia, Joaçaba, Joinville, Mafra, Palhoça e São Bento do Sul (clique e confira a programação da sua cidade) pode participar das ações, que são gratuitas e abertas à comunidade em geral.
Como identificar os principais sinais do abuso infantil
Campanha Maio Laranja apresenta principais comportamentos que podem ajudar os pais a identificar situações abusivas contra crianças e adolescentes
Como a maioria dos casos de abuso sexual infantil acontecem no lar e por pessoas próximas das crianças e adolescentes é importante observar sinais e comportamentos. Uma criança abusada sexualmente não tem condições de falar abertamente porque não compreende claramente o que está acontecendo, por isso, são consideradas tão vulneráveis.
Os abusadores geralmente ameaçam a criança de diversas formas, gerando medo e culpa, o que impede a criança de expor o que sente. É importante que os pais e responsáveis fiquem atentos aos sinais de alerta que geralmente as crianças abusadas apresentam.
A psicóloga do Sesc, Fabíola Stenhaus Pires, explica que as reações são muito individuais, mas, em geral, produzem consequências emocionais graves, desde dissociações (afastamento súbito da realidade pela falta de compreensão sobre o que é ou não real), perda de confiança nos outros e em si mesmo, dificuldades nos relacionamentos, dificuldades de posicionamento, de estabelecer limites, de gostar de si mesmo, de respeitar a si mesmo e ao próximo, comportamentos autodestrutivos, ansiedade, síndrome do pânico, depressão, entre outros.
"A longo prazo, os danos podem evoluir para transtornos de personalidade, transtorno bipolar, transtornos obsessivos compulsivos, dependência química, bipolaridade, dificuldades de socialização, agressividade ou timidez excessiva", orienta.
Para auxiliar a família a identificar alguns sinais e comportamentos importantes, a equipe da campanha nacional Maio Laranja preparou o quadro abaixo:
O que fazer ao identificar os sinais: Uma vez que surja a desconfiança é fundamental agir
O primeiro passo é proteger a criança e não a deixa-la sozinha com o suspeito abusador nem que seja por poucos minutos.
A seguir é importante procurar um profissional da área da saúde: psicólogo, psiquiatra ou assistente social para realizar o acolhimento da criança, através de escuta especializada, evitando retraumatizar a criança.
Em seguida, é importante utilizar as redes disponíveis para denúncia. Isso é dever do cidadão e muito importante, pois a notificação dos casos auxilia muito no processo de proteção à infância e pode, literalmente, salvar vidas.
Como denunciar possíveis casos de Abuso sexual infantil em Santa Catarina:
Disque 100 (Ligação gratuita, todos os dias da semana, 24 horas por dia, garantia de denúncia anônima)
Delegacia de Polícia Virtual - www.pc.sc.gov.br
Ministério Público de Santa Catarina (Ouvidoria) www.mpsc.mp.br
Conselho Tutelar do Município
Dados da Violência
Os dados e estatísticas da Violência e Abuso Sexual Infantil são alarmantes, mas ainda assim, representam um número menor do que a realidade. Isso ocorre devido a dificuldades nas notificações dos casos, como o medo da vítima frente a ameaças dos abusadores, entre inúmeros outros decorrentes dos traumas psicológicos e da forma como a sociedade vem lidando com estas questões.
Informações do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2022; do Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública da Unicef, revelam que, entre os anos de 2016 e 2020 ocorreram 34.918 mortes violentas intencionais de crianças, 179.277 notificações de crimes de estupro de vulnerável (de 0 a 19 anos) entre 2017 e 2020; 6.970 mortes de crianças por ano e 45.000 casos de estupro por ano.
As estatísticas revelam 76,5% dos casos de estupro acontecem dentro de casa, sendo que 95,4% dos agressores e abusadores são do sexo masculino, 82,5% são conhecidos da vítima, 40,8% são pais ou padrastos; 37,2% irmãos, primos ou outro parente e 8,7% são os avós da vítima. Mais de 4 meninas menores de 13 anos são estupradas por hora no Brasil.
Dever de proteger
O artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, ei8069/90), assegurado pelo artigo 227 da Constituição Federal de 1988, aponta que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito: à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária e ainda que devem ser protegidos de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
+Saiba mais
A escolha do Dia 18 de maio como marco da Campanha Maio Laranja deve-se a um crime bárbaro ocorrido contra uma menina de 8 anos, no ano de 1973. Este caso foi amplamente conhecido, pois a violência cometida contra a menina Araceli, em Vitória/ES chocou o país. Ela foi sequestrada, drogada, sofreu violência sexual e foi brutalmente assassinada.
Os autores do crime foram julgados, mas a sentença foi anulada e eles permanecem em liberdade.
As Campanhas de conscientização que atribuem cores a cada mês do ano começaram a ser utilizadas há algumas décadas. Diversas organizações de saúde têm utilizado esta prática com o objetivo de informar, conscientizar e prevenir, chamando a atenção da população e das autoridades para problemas maiores na sociedade e impulsiona a criação e desenvolvimento de mais ações preventivas.
Bibliografia indicada
Livro de atividades Pipo e Fifi. Autora: Caroline Arcari. Ilustação: Isabela Santos. Ano 2020. Editora Caqui. www.pipoefifi.org.br ·
Tuca e Juba. Autora: Julieta Jacob. Ilustrações: Ilustralu www.tucaejuba.com.br (Para adolescentes)
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