Os dados são alarmantes. O número de casos de infeções pelo HIV, o vírus da Aids, especialmente entre jovens e adultos só cresce em Santa Catarina. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES/SC), desde 2014, quando a notificação passou a ser obrigatória, o número de casos entre pessoas de 20 a 34 anos saltou de 757 para 1.051, em 2015, e para 1.080, em 2016. Em Florianópolis o número dobrou em dois anos, de 284 novos casos registrados em 2014 passou para 517 em 2016.
Com o objetivo de contribuir para o enfrentamento da epidemia de HIV entre os jovens, o Sesc em Santa Catarina deu a largada para um projeto inovador: o “Multiplicadores de Saúde – Educação entre Pares”. A ação integra o Programa de Promoção de Saúde Sexual e Reprodutiva do Departamento Nacional do Sesc e fomenta a participação e o protagonismo dos adolescentes. Como o próprio nome já sugere, educação entre pares é um processo de ensino e aprendizagem em que adolescentes atuam como facilitadores de ações e atividades com e para outros jovens, ou seja, os pares. Esse termo veio do inglês peer educator e é utilizado quando uma pessoa fica responsável por desenvolver ações educativas voltadas para o grupo do qual faz parte.
O projeto iniciou em Florianópolis, como piloto, e conta com a participação de nove adolescentes entre 13 e 16 anos que querem ajudar a transformar essa realidade. Eles são alunos do 8º ano do Ensino Fundamental do Instituto Estadual de Educação (IEE) e se interessaram pela proposta do Sesc, durante apresentação na Escola. Nas entrevistas de seleção, acompanhados pelos pais ou responsáveis, manifestaram a vontade de ajudar os amigos e conhecidos, de incentivá-los a prevenir doenças, de mudar o pensamento e o futuro das pessoas, de ver o mundo melhor, e também de quebrar tabus.
“Acreditamos que o adolescente aprende mais com outro adolescente. Em todo o Brasil, já são diversas as iniciativas que abrem espaço para que suas vozes ecoem. Com este projeto, estabelecemos novos parâmetros para a formação destes jovens, no campo da sexualidade e da prevenção, ampliando o debate sobre promoção da saúde, gênero, diversidade sexual, entre outros temas, por meio de ações integradas entre os setores saúde e educação”, declara a gerente de Saúde do Sesc em Santa Catarina, Jéssica da Luz Pereira Pucci.
Os encontros dos grupos acontecem nas tardes de terça-feira, no Sesc Prainha e são ministrados pela equipe de Saúde do Sesc e por profissionais especialistas da área, como a professora Graziela Raupp Pereira, PhD em Educação, com doutorado e dois pós-doutorados na área, e o presidente do Grupos de Apoio à Prevenção da Aids (GAPA), Alexandre Cunha dos Santos. Entre os assuntos tratados estão anatomia dos órgãos sexuais e seu processo de desenvolvimento em conjunto com os aspectos fisiológicos (endócrinos), focando no que seria normal e alterações; Questões patológicas em função de situações de risco para as ISTs; temas da prevenção combinada; Sexualidade e HIV-AIDS; além de questões ligadas a valores, ao respeito à diversidade e aos diferentes tipos de família.
Para a professora Graziela, a grande dificuldade da inserção da educação sexual nas instituições de ensino está relacionada a falta de esclarecimento e informações do que é sexo e o que é sexualidade. “A família deveria ser a primeira educadora sexual de uma criança, mas acaba não cumprindo esse papel e delegando à escola, que por sua vez não tem gestores, professores e comunidade educativa preparada para atuar com o tema. Então formar jovens multiplicadores de seus pares é um dos melhores caminhos. Os adolescentes que estão aqui fazem a diferença e vão fazer ainda mais com seus colegas”..
Ser curioso, saber ouvir, saber conviver com as diferenças, trabalhar em grupo, ter criatividade, entusiasmo e comprometimentos são alguns dos pré-requisitos para ser um bom Multiplicador. Confira abaixo aluns depoimentos dos participantes.
Larissa Cardozo
14 anos
Larissa está animada com a atividade, pois considera diferente da escola. “Estou aprendendo muito aqui, de forma descontraída, divertida, e junto com os meus amigos”, conta..
Cauã W. Rodrigues
15 anos
O aluno considera este um tema urgente e está preparado para ser um multiplicador. “Sou participativo e extrovertido o que vai facilitar a comunicação na hora de repassar os conhecimentos que estou adquirindo”.
Thiago de Moraes
16 anos
O Thiago está superando sua timidez para encarar esse desafio. “Tirei muitas dúvidas que tinha até agora, que acredito que meus colegas também tenham”, conta.
Multiplicadores de Saúde
O projeto Multiplicadores de Saúde prevê cinco encontros de quatro horas com um grupo. A primeira etapa do projeto acontece até 18 de setembro. Após, os alunos participantes realizarão ações de multiplicação com os colegas do 8º ano do IEE, usando recursos criativos. A partir deste momento eles estarão formados como “Multiplicadores de Saúde” e preparados para esta grande missão de disseminar os conhecimentos entre seus pares. Em 2019, o Sesc realizará o projeto em sete cidades: Blumenau, Brusque, Criciúma, Florianópolis, Itajaí, Laguna e Tubarão.
0 Comentários